Jornal Aldrava Cultural
AMULMIG - Discursos de Posse

Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais

Discursos da Posse dos poetas aldravistas de Mariana, MG

Dia 18 de agosto de 2009, às 16horas
Rua Agripa Vasconcelos, 81 - Alto das Mangabeiras, Belo Horizonte


Acadêmicos exibem seus diplomas

Discurso de Saudação a
ANDREIA APARECIDA SILVA DONADON-LEAL, ANDREIA DONADON-LEAL
Cadeira 311 – patrona Beatriz Brandão, Município de Itabira/MG
e
JOSÉ BENEDITO DONADON-LEAL/ J. B. DONADON-LEAL
Cadeira 313 – patrono Lázaro Francisco da Silva, Município de São João do Caiuá/PR.

Pela Acadêmica ANGELA TOGEIRO FERREIRA,
Cadeira 282 – patrono Zoroastro Torres, Município de Volta Redonda/RJ,
às 17 horas do dia 18/08/2009, na sede da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, na Rua Agripa de Vasconcelos, 81, - Mangabeiras, Belo Horizonte/MG.

Senhora presidente, Elisabeth Fernandes Rennó de Castro Santos,
Senhor presidente emérito Luiz Carlos Abritta,
Sras. Vices presidentes Ismaília de Moura Nunes e Maria Conceição Antunes Parreiras Abritta,
Sra. Presidente do Conselho Superior Cely Vilhena de Moura Falabella,
Demais membros acadêmicos da mesa, autoridades,
acadêmicos, convidados, amigos e parentes dos empossandos meus afilhados Andreia Donadon-Leal e J B Donadon-Leal.

Para falar de um casal unidos no amor e na literatura volto no tempo e cito o saudoso presidente Jésus Trindade Barreto, com texto do livro Calidoscópio:

“História
Casais e amores célebres
José e Maria
Petrarca e Laura
Dante e Beatriz
Camões e Catarina
Romeu e Julieta
Alphonsus de Guimaraens e Constança
Cervantes e Dulcinéia
Napoleão e Josefina
Abelardo e Heloísa”

Certo que desses muitos são amores trágicos, mas amores,

... a que à época nós acrescentamos
Jésus e Verita
Renato e Altair
Abritta e Conceição...

E hoje acrescento José Benedito e Andreia Aparecida em nossa academia – municipalista no amplo e perfeito sentido de distinguir os valores de uma terra natal, formada pela célula mater completa: a família, embrião do município, da sociedade.
Esse é um quarteto precioso que temos: casais unidos pelo amor do coração e da intelectualidade. Interação.
Andreia de Itabira, terra Mineira, terra de Drummond e de tantos outros escritores famosos e anônimos.
Donadon paranaense de São João do Caiuá.
E quis o destino que o amor lhes florescesse em Mariana – amor da alma e da literatura. Por isso, para falar sobre eles, fui ainda a Mariana, uma vez que, nascidos em municípios e estados tão distintos, fizeram dela o segundo lar, para abrigá-los como nova família. Mariana é apaixonante com suas serras descortinando torres e mais torres que a fé erigiu em nome de Deus e seus intermediários, gentes tranquilas passando pelas ruas. Um dos poucos lugares onde o carro dá passagem ao pedestre.

ANDREIA APARECIDA SILVA DONADON-LEAL

Andreia Donadon-Leal
nasceu num 17 de setembro, viveu em Itabira alguns anos, depois foi para Santa Bárbara e agora está em Mariana. Seus pais Edson e Maria Aparecida (ele falecido, ela, aqui, honrando-nos com o presente que Deus lhes Deu: Andreia.
Licenciada em Letras, pós-graduada em Artes Visuais – Cultura e Criação, tem uma extensa vida no culto do Belo pelo Belo: é artista plástica, poeta, cronista, contista, articulista, diretora e ilustradora do Jornal Aldrava Cultural, capista, ilustradora, divulgadora cultural gráfica ou eletrônica de eventos nacionais e internacionais, individuais ou coletivos, promotora de saraus, oficinas, palestras, concursos, exposições de arte, sobretudo no que se refere a impulsionar a criança e o jovem no mundo literário, resumindo: ativista cultural de escol.
Presidente vitalícia fundadora da Academia de Letras do Brasil de Mariana, Governadora em MG do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, Membro de Poetas del Mundo, é Cônsul de Mariana, e Embaixadora Universal da Paz, pelo CUEP/France-Suisse, Cercle Universel des Embassadeurs de la Paix. Membro correspondente da Academia de Letras do Rio, da Academia Maceioense de Letras, da Academia Cachoeirense de Letras, Acadêmica Benemérita da Academia Feminina Mineira de Letras com posse marcada para o 17 vindouro de setembro. Foi indicada para receber a mais alta insígnia no mês de Maio de 2010 em Paris: Medalha de Mérito e Diploma da Societé Académique des Arts, Sciences et Lettres, fundada em 1915, coroada pela Academia Francesa sob patrocínio de Sua Excelência, Presidente da República da França, pelo destaque nas artes plásticas e com convite para ser membro da mesma. E hoje se torna nossa acadêmica, oferecendo-nos seus dons ao representar seu município na AMULMIG.

Um poema da neo-acadêmica Andreia: Ladrão
(é um poema atemporal de Andreia que me lembrou algumas poetisas como Cecília Meireles, em O Retrato e minha madrinha nesta casa, Dina Mangabeira, em Minhas Mãos, não que lhes guarde a identidade completa, mas porque revelam a particularidade feminina ante o tempo e o choque com nossa realidade além da poesia...)

não retenho tempo
na palma das mãos
nem escondido no estrado
do colchão

o tempo faz pouco
das
linhas poéticas
dos versos
encarde e come
folhas de papel
o tempo mastiga
pele macia
desenha nas mãos
um punhado de pintas

tempo
ladrão incorruptível.

Andreia, além dessa gama de dons, é simpática, é amável e a vejo sempre com um sorriso e olhos brilhantes, coroando até situações adversas como lenitivas. Já nasceu com alma artista, de criança gostava de grafitar paredes, hoje, artista plástica, tem obras premiadas e expostas no Brasil, em Mariana, Itabira, Santa Bárbara, Viçosa, Belo Horizonte, Londrina, São Paulo, breve em Juiz de Fora; e no exterior, na República Dominicana, Espanha, Itália, Áustria, Alemanha, Polônia, China, Tailândia e no museu da cidade do México e do Louvre, em Paris. Como literata, trabalhou em Santa Bárbara com jovens e crianças com literatura, declamação e direção de peças teatrais, participou de Festivais de Inverno de Ouro Preto/Mariana. Participa de várias antologias de haicais, contos e poesia de edição impressa ou digital/eletrônica com autores nacionais e internacionais. A maioria delas são prêmios literários decorrentes de concursos nacionais e internacionais em entidades de renome nas suas áreas em Portugal, e os disputados concursos de contos e poesia de Paranavaí/PR, de Foz do Iguaçu/PR, de Ipatinga/MG entre outros, no Brasil. Além do importante Prêmio Viva Leitura do MEC e MinC, participação em bienais de livros, como de SP e a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília/DF, em 2008, com atividades voltadas para cegos, declamação de poemas e oficinas em Braille. Participa do Livro Nas Sendas de Bashô - haicais, senda I, Prêmio Viva Leitura do Mec e MinC, com os escritores JBDonadon-Leal, JSFerreira e Gabriel Bicalho. Teve seu artigo “A literatura e a Arte Aldravista” publicado na Revista da Academia Mineira de Letras – 2009. Seu currículo ficará anexado à Ata da Sessão Solene de Posse, pois grande é sua produção intelectual, para pormenorizarmos agora. Além de livros inéditos de vários gêneros, publicou, a solo, Cenário Noturno (poesia), num estilo poético moderníssimo, de versos livres, de figuras de linguagem e sonoridade, onde predomina a percepção e interação do poeta e leitor comungando a poesia universal, temas unânimes, inusuais e cotidianos, uma verdadeira releitura, ‘e por que não?’ recriação do poetar. Portanto um livro para ser lido e relido e divisado, do qual apresento ainda o poema:

baú de veludo

se soubesse
que ele viria
tiraria do fundo
do baú
vestido engomado
sapato de salto
meia fina
véu de filó e
coroa de pedras douradas

colheria do jardim
rosas brancas e vermelhas
hortênsias
orquídeas
avencas e
perpétuas verdinhas

enfeitaria a casa
abriria portas e
janelas
tiraria mofo e ciscos dos móveis
colocaria canção de amor na vitrola

você não veio
mas guardo
ainda
a caixinha
de veludo

Andreia Donadon-Leal: para mim foi uma honra apresentá-la na AMULMIG, com seu longo e aguerrido caminho a abrilhantar o mundo com sua generosa alma e intelectualidade, com sua força e delicadeza feminina descortinada nos seus versos, com sua maneira de ser e conquistar pessoas. Hoje mais alegre ainda estou por poder mostrar um pouco de sua história já construída aos demais pares e convidados e amigos nesta festa fraterna em que você adentra nossa casa. Por certo Deus e o patrono São Francisco de Assis guardaram esta cadeira para Itabira e reservaram tão gratificante patrona, Beatriz Brandão, para você desde o Sempre. Andreia Donadon-Leal: entre, a casa é sua! Seja bem-vinda! Sinta-se bem-vinda!

JOSÉ BENEDITO DONADON-LEAL
JB Donadon-Leal
JB Donadon-Leal. Veio lá de São João de Caiuá, pequenino município no Estado de Paraná. Filho de Camilo Francisco e Sílvia Donadon-Leal. Terra essa que gerou um grande homem e nós, mineiros e amineirados, colhemos e distribuímos os frutos que produz. Frutos estes que a cidade de Mariana reconheceu agraciando-o com o Título Cidadão Honorário de Mariana, no dia 04 de julho de 2009 e antes dela, a cidade de Pilar, na Paraíba em 1999.
Na carreira profissional é pós-doutor em Análise do Discurso pela UFMG/MG, tendo antes se doutorado em Linguística USP/SP, mestrado em Linguística UFSC/SC e se graduado em Letras Anglo Portuguesas, UEMaringá/PR. Foi docente durante 25 anos no Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Mariana, e hoje, é Professor da UFOP de Semiótica e Teoria da Comunicação para o curso de graduação, pesquisador de Semiótica, organizador de antologias sob ótica de linguística, Integrante e Presidente de Banca de Concurso Público, presidente do Conselho Editorial da Associação Aldrava Letras e Artes, criador e idealizador do Movimento Aldravismo. Prefaciador. Palestrante e facilitador de oficinas de haicai, produtor teatral, promotor de exposições artísticas, ensaísta, cronista e articulista, poeta clássico e moderno.
Nascido num primeiro de maio – Dia do Trabalho, traz da data o esteio da vida: Trabalho. E eis que, carregando o peso e a responsabilidade de tanto estudo, dedicação e qualificação pessoal e profissional, é poeta de rara sensibilidade, como se nos descortina este soneto, do livro Marília, sonetos desmedidos, que já foi objeto de vestibular da UFOP.

Soneto desesperado

A tarde se esvai vagarosamente...
com ela deito-me à morte da noite,
tão só, a lembrar que meu corpo foi-te
sol eterno, miolo da semente.

Com os fulvos idos o céu é rubro,
núncio do meu sofrer maior que eu;
dos últimos raios então me cubro,
sangue da dor sem dó que me abateu.

Mas o breu impiedoso vem tão forte,
nem lhe importa se o dia me valia;
roubando o calor, dando noite fria.

Peço, volte pra mim, mulher, meu dia,
nada há na noite com que me importe,
só os olhos teus, minha maior sorte.

José Benedito é membro da Academia Marianense de Letras, cadeira 06; Membro Honorário do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais – InBrasCI, no qual é secretário da Representação Regional de Minas Gerais; Membro da Academia de Letras do Brasil – Mariana/MG, e do Poetas del Mundo.
Acolhe a todos com simplicidade e hospitalidade, no entanto, se tempo tivéssemos passaríamos horas a minudenciar sua vasta e rica produção profissional e literária. Por isso, anexo ao meu discurso seu Currículo para constar na Ata da Sessão Solene de Posse e servir de consulta aos interessados em conhecer detalhadamente seu profícuo trabalho.
Tem mais de centena de obras sejam poemas, contos, artigos, capítulos de livros, tanto de literatura quanto artigos técnicos publicados em periódicos e jornais impressos ou eletrônicos, como o Aldrava, Linguagem Viva, e para enciclopédias como a Barsa Planeta Internacional, em anais de congressos e edições universitárias tais como UFOP, UFMG, UFPB, UNIFESP – Univ. Fed. SP, UEM/PR – Universidade Estadual de Maringá, FEUC/RJ – Fundação Educacional Unificada Campograndense, UFRJ, PUC/SP, Fac. Integradas Newton Paiva/MG, UFSC.

Premiado em diversos concursos de contos e poesia, como da UBE/RJ, Prêmio Xerox Universitário, Paranavaí/PR, UFSCatarina, e recebeu ainda prêmios de Mérito Cultural, como de Pilar/PB - Programa Alfabetização Solidária, Medalha e Certificado de Mérito Cultural do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais/RJ, e do Clesi/Ipatinga/MG, Medalha de Mérito Cultural Artur da Távola - Personalidade Cultural de 2008, pela Confederação das Academias de Letras e Artes do Brasil – Rio de Janeiro, e Certificado de Amigos da Paz, das Artes, da Poesia e da Vida concedido pela ONG ALÔ VIDA, pela REDE CATITU CULTURAL e pela EMBAIXADORA DA PAZ, pelo Cercle Univ. de les Embassadeurs de la Paix (de Genebra, na Suíça), pelos trabalhos culturais e educacionais realizados no estado de Minas Gerais e outros estados; e ao projeto educativo Da Arte Poética a Alfabetização “Haicais”.
Autor a solo de livros técnicos entre eles Leituras – Ciência e arte na linguagem, Coletânea histórica, paisagística e cultural do Norte do Paraná, e de poesia: Dô – Caminho (haicais), Marília, sonetos desmedidos, de que li o Soneto desesperado, Jardim & Avenida (haicai), Gênese da Poesia e da Vida (Premiado no 1º Festival de Literatura Universitário Xerox e Revista Livro Aberto), Sáfaro – poemas livres, Vereda dos seixos (haicais), e nas Sendas de Bashô (haicai), Senda 04, publicado com os escritores AD, GB, JS. Participa também de Antologias poéticas com outros autores, lançadas em bienais.

Descuido – JB Donadon-Leal, 1997

Sempre tive a mania
de recolher
se os encontro jogados por aí
parafusos
pregos
porcas
arruelas
pequenos objetos que
de vez em quando
a gente os procura desesperado.
Nunca, porém, tive o cuidado
de recolher
se os encontro
descuidado
olhares
afagos
palavrinhas
pequenos carinhos que
a gente necessita desesperado.

Assim, desnudado o profissional, desnudado o poeta, desnuda-se o homem. José Benedito é um ser excepcional com sua vasta e sedimentada cultura, na sua poética alma e nobre caráter. Sei que hoje a casa de São Francisco de Assis não se engalana à toa, mas ficará enfeitada sempiternamente com a presença deste valoroso acadêmico que ora recebemos. À época do convite para ingressar nossa casa que fiz a você e aos demais empossandos, ousei parafrasear repetindo Emily Dickinson, ‘Não sei quando virá o amanhecer, então abro todas as portas’, e, hoje, agora, ainda me sinto assim... E agora, José Benedito Donadon-Leal, eu lhe digo: Entre, a casa de São Francisco de Assis é sua!É de seu patrono Lázaro Francisco da Silva. É de seu município de São João do Caiuá. Seja bem-vindo!


Andreia Donadon Leal faz discurso à Patrona Beatriz Brandão

Exma. Sra. Elizabeth Rennó, Digníssima Presidente desta egrégia casa de Letras
Exmo. Sr. Luiz Carlos Abritta, digníssimo Presidente Emérito desta egrégia casa de letras
Ilma. Sra. Ângela Togeiro, digníssima secretária desta casa, madrinha desse nosso ingresso e oradora nesta posse,
Ilma. Sra. Maria Conceição Abritta, oradora desta posse, em nome de quem cumprimento as demais autoridades presentes
Presidentes de academias, institutos aqui presentes
Confreiras e confrades- senhores e senhoras

BEATRIZ FRANCISCA DE ASSIS BRANDÃO
Nascida em 29 de julho de 1779, em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, Beatriz era prima primeira de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas (conhecida por Marília de Dirceu). Foi poetisa, compositora, musicista, diretora de escola, tradutora de grande número de poesias italianas e francesas, e artista escolhida - por ser uma intelectual de destaque na sociedade de então - para homenagear D. Pedro, em 1820, cantando para ele um hino de sua autoria.
Aos vinte anos fundou a primeira escola para meninas de Antônio Dias; criou um coral na igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar; foi uma das três primeiras mestras da instrução pública de Minas Gerais.
Casou-se com o Alferes Vicente Baptista de Alvarenga, de quem se divorciou, em 1839, pelo Juízo Eclesiástico, por ser vítima de sevícias praticadas por seu marido. Após o término oficial de seu casamento, partiu, aos sessenta anos de idade, para o Rio de Janeiro, onde reconstruiu sua vida, trabalhando como professora e publicando suas poesias em vários jornais da cidade.
Algumas das poesias da escritora foram publicadas, em 1831, no Parnaso Brasileiro do Cônego Januário (o que demonstra que, ainda em Vila Rica, Beatriz enviava seus poemas para o Rio de Janeiro) e, em 1856, saiu a publicação de Cantos da mocidade, primeiro livro da autora, que colaborou ainda nos jornais Marmota Fluminense (de 1852 a 1856) e O Guanabara. Em 1867, um ano antes de sua morte, Beatriz teve seu nome reconhecido no verbete a ela dedicado por Inocêncio Francisco Silva em seu Diccionario Bibliographico Portuguez.
“... Pois assim devíamos conhecer Beatriz Brandão: como uma das raras mulheres de letras do período colonial brasileiro. Enquanto a maioria, apesar das posses e pretensões aristocráticas, vegetava na ignorância ou agia como bibelô, a autora publicava livros e abria escolas para meninas em Vila Rica. E seus versos tão bem construídos em nada perdem para os mais citados de nossos poetas neoclássicos...” (Dra. Constância Lima Duarte, 2005)
A pesquisadora Cláudia Costa Pereira realizou dissertação de Mestrado na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais: Beatriz Brandão: Mulher e Escritora no Brasil do Século XIX – Editora Scortecci- 2005, em cinco anos de pesquisas em diferentes arquivos, bibliotecas e instituições, desde pesquisa em documentos primários manuscritos, alguns deles micro filmados, à pesquisa na internet; da leitura de histórias da literatura a antologias poéticas do século XVIII ao XXI; do estudo de obras teóricas nas áreas de História (do mundo, do Brasil, da mulher, etc.,).
Um poema dedicado a sua prima primeira, Maria Dorotéia de Seixas Mairink: “Marília de Dirceu”, publicado em março de 1853 e impresso também em Cantos da Mocidade e na Antologia de Wagner Ribeiro, em 1964, À Morte de Dona Maria Dorotéia de Seixas Mairink, Beatriz Brandão canta em versos pungentes a beleza inigualável e arrebatadora de sua prima, querida musa inspiradora do poeta Dirceu:
“Essa beleza, que imortalizava
Do mais terno amador a acorde lira;
Essa Marília de Dirceu querida,
Cessou de respirar!... já não existe!
Cerram-se esses olhos poderosos,
Que inspiraram tão doces pensamentos
Ao Vate delicado, e inda nas sombras
Da esquálida masmorra, iluminavam
O coração e a mente atribulados
Da vítima infeliz da prepotência;
Onde instruído de amorosa indústria
Tinta e pena formou de espécie nova,
Para escrever à sua bem amada,
E com traços de fogo pintar-lhe
De seu infausto amor toda a veemência!
“...enquanto houverem corações sensíveis,
AMOR, e Poesia, os gratos nomes
De – Marília e Dirceu – serão lembrados,
Seu amor e desgraças memorados!...”
Beatriz Brandão faleceu em 05 de fevereiro de 1868, com 89 anos, no Rio de Janeiro; deixando publicadas cerca de doze obras; é patrona da cadeira n° 38 da Academia Mineira de Letras, e segundo alguns dicionários, deixou inéditos diversos poemas, hinos e composições musicais. A poetisa chegou ao século XXI, de acordo com muitos autores, como a primeira compositora brasileira e uma das primeiras escritoras da nossa nação.
Ainda nos ícones mineiros, inicio breve discurso sobre os Municípios representativos, citando um aforismo de um nobre MINEIRO de ferro; insensível ao cansaço. Antes de cerrar os olhos pronunciou, no ouvido do Dr. Miguel Couto, as palavras que expressam os valores da síntese de sua vida: “DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA E LIBERDADE”. (Dr. Affonso Penna)
Nasci em Itabira- MG, cresci em Santa Bárbara- MG e atualmente vivo na cidade de Mariana. Passei o finalzinho da infância, da adolescência e da fase adulta na cidade de Santa Bárbara, berço dos meus antepassados e de grandes vultos históricos como o Ex-Presidente da República, Dr. Affonso Penna. Cidade histórica do Circuito do Ouro de MG, localizada no centro da Estrada Real, entre MARIANA E ITABIRA; lugares significativos e marcantes em minha vida literária/cultural/pictórica e familiar. As maravilhas de Santa Bárbara não estão apenas em sua história, mas no pulsar dela, edificando o presente, dando vida à história cultural com eventos importantes como a Semana Santa, Exposição Agropecuária, Torneiro Leiteiro e a Semana da Cultura, no seu 4° ano de execução. Santa Bárbara é a cidade dos meus sonhos e realidades. Lugar onde vivi momentos inesquecíveis, muitos felizes, alguns tristes, outros marcantes, como há de ser nas fases da vida.
Passei boa parte da infância na cidade de Itabira. Lembro que levei uma repreensão dos meus pais, porque pintei parte da parede do quarto com desenhos de casinhas e portais. Pintei também parte do muro e paredes da Escola Estadual Cornélio Pena, depois tive que limpar para aprender a não rabiscar as paredes de estabelecimentos públicos e das casas. Esse foi meu primeiro contato com a arte: na escola de Itabira.
Itabira combina a concretude do ferro com a sensibilidade da poesia Drummondiana. Itabira significa pedra dura, reluzente. A ocupação data de 1720, quando os irmãos Francisco e Salvador Faria de Albernaz, passaram a explorar ouro no local. Em 1827, foi elevada à categoria de arraial, pertencendo à Vila Nova da Rainha (Caeté). Emancipou-se em 1833 com o nome de Itabira do Mato Dentro. Da exploração do ouro passou à do minério de ferro, principal atividade econômica do município até hoje.
Falar de Itabira e não mencionar Drummond seria uma falta de respeito com o poeta itabirano, meu conterrâneo. Filho notável e reluzente, como o significado da palavra Itabira, a cidade transpira e respira sua genialidade literária. Drummond brota da combinação da pedra dura com a sensibilidade poética reluzente: “Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente, nasci em Itabira. Por isso, sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas, Oitenta por cento de fero nas almas. E este alheamento do que na vida é porosidade e comunicação”...
ITABIRA – ANDREIA DONADON LEAL
De ferro
De sensibilidade
De poesia
De ouro
De Drummond
De campos verdejantes.
“Itabira
três altas serras
com a Serra do Esmeril,
o seu ferro é dos melhores
o primeiro do Brasil”...
Itabira
:
meu pedaço de chão
minha ilusão de criança arteira
sonhos/poesia/ arte/
essência de minha vida...
Itabira
:
de meus irmãos,
de meus pais
que cravejaram na terra
minha tenra existência.

Muito obrigada.


J.S. Ferreira faz discurso de saudação ao Patrono José Afrânio Moreira Duarte

Exmo. Senhora Presidente – Elizabeth Rennó
Demais membros da mesa,
Autoridades Presentes,
Senhores Acadêmicos,
Minhas Senhoras,
Meus Senhores,
Meus queridos Amigos,

Nasci em São Gonçalo do Rio Abaixo – MG, Zona Metalúrgica, emancipado pela lei 2764, de 30 de dezembro de 1962, com território desmembrado de Santa Bárbara. Cidade acolhedora, de grande potencial turístico e arqueológico e cultural. Possui um vasto calendário de atividades artísticas, culturais e religiosas, além do artesanato, principalmente nos trabalhos de crochê e tricô, e na culinária que encanta a todos, com destaque para o pão de queijo, doces, bolos e quitutes. Atualmente conta com a indústria extrativa mineral, com a abertura da Mina de Brucutu pela Vale.

Neste breve pronunciamento de louvação a José Afrânio Moreira Duarte, dispensável exaltar suas virtudes humanísticas e intelectuais e o valor de suas obras tão decantadas nos meios literários e por todos os cantos do país e do mundo. No entanto, ressaltarei a valiosa contribuição da obra crítica de José Afrânio Moreira Duarte à literatura nacional, especialmente pelo seu caráter pedagógico. Para demonstrar esse seu lado professoral, destacarei trechos de suas publicações no Jornal Aldrava Cultural, no qual José Afrânio manteve uma coluna até a sua morte, ocorrida em 03 de Junho de 2008. Passaremos então dialogar diálogos de José Afrânio Moreira Duarte:

- “Encontro com Alaíde Lisboa de Oliveira” quando lhe perguntou: - “Qual a sua opinião a respeito da realidade crua e até o uso de palavrões na literatura infantil?” – E ela respondeu: - “Outro dia, uma criança me perguntou: Por que é que a senhora não gosta que a gente fale nome feio? – E eu expliquei: justamente por isso, porque o nome é feio e eu gosto do que é bonito... Ela entendeu bem e sorriu.” (Jornal Aldrava Cultural n° 35 - pág.7 - Abril/Maio/2004.)

- Professores e Alunos da Escola Estadual“ Professor Cândido Gomes” de Alvinópolis –MG, lhe perguntaram: - “Dos livros de contos escritos pelo senhor há um preferido? Por quê? - E ele respondeu: - “O Menino do parque”, talvez por ser a realização de um sonho de menino só concretizado aos 35 anos, em 1966. (Jornal Aldrava Cultural n° 43 – pág. 7 - Fevereiro / 2005.)

- Num “Passeio a Catas Altas” relembra a infância e diz: - “ a Van parou na praça principal, centralizada pela bela Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas, ao rever aquele cenário tão lindo onde fui um menino feliz, acometeu-me agradavelmente uma doce emoção, tão forte que fiquei cerca de uns cinco minutos sem conseguir falar. (Jornal Aldrava Cultural n° 37- pág. 7 - Julho/2004.)

- Do seu comentário sobre o livro “Lixos & Caprichos”, de minha autoria publicado em 1991:
- “Prezado José Sebastião Ferreira, recebi, por intermédio do querido Marco Antônio Tukoff, “Lixos & Caprichos”. Agradecendo a oferta delicada, digo-lhe que seu livro para mim é a revelação de um autêntico e talentoso poeta que sabe aliar, de forma bem dosada, inspiração, sensibilidade e apurada técnica artesanal, sem prejuízo da clareza e da objetividade. Parabéns e continue sempre. Felicidades. José Afrânio Moreira Duarte. Belo Horizonte, 25-08-1993.”

- De seu livro “Henriqueta Lisboa: Poesia Plena”, com maestria e sensibilidade comenta sobre o segundo livro da poetisa “ENTERNECIMENTO”: - “Ninguém no Brasil cultivou a arte poética com mais esmero, seriedade e carinho do que “Henriqueta Lisboa”, uma das maiores vozes da lírica nacional.” Ou relembrando a infância em “O Menino Poeta” referindo-se ao poema “Segredo” fazendo alusão as andorinhas enfileiradas no fio de sua querida “Alvinópolis”, eis o poema:

“Andorinha no fio
escutou um segredo
Foi à torre da igreja,
Cochichou com o sino

E o sino bem alto:
delém - dem
delém - dem
delém - dem
dem - dem!

Toda a cidade
ficou sabendo”.

Ou numa das muitas visitas e longas conversas que tiveram na casa da poetisa quando ela disse-lhe: - “Em nenhum setor de atividade artística, o artista surge logo pronto e completo. Na música, por exemplo, o pianista, na quase totalidade dos casos, leva anos fazendo exercícios, até ficar em condições de dar um concerto. Na poesia é a mesma coisa”.
Talvez por pensar assim, Henriqueta Lisboa tenha considerado “Fogo – Fátuo”, livro de poemas com que estreou em 1925, apenas um exercício poético, efêmero, como o próprio título, a ponto de excluí-lo de uma vez por todas da relação de suas obras completas, passando a citar sempre “ Enternecimento”, de 1929, como sua estréia, tanto que permitiu fosse comemorado o seu cinqüentenário poético em 1979 e não em 1975.

Assim José Afrânio Moreira Duarte foi tecendo com suas mãos mágicas a vasta obra literária, analisando, aconselhando e comentando os livros de todos aqueles que o cercavam e necessitavam de sua generosidade, nesta árdua tarefa de poetar.

Quero expressar meus sinceros agradecimentos a Ângela Togeiro que me indicou para que minha candidatura fosse analisada pelo Conselho de Sindicância desta Casa. Agradeço a forma profissional e o talento das componentes do Conselho de Sindicância, que aprovou meu ingresso nesta Casa de Letras. Agradeço a Sra. Presidente, Elisabeth Rennó, pela recepção tão calorosa.. Espero empenhar-me nas tarefas que me forem designadas, respeitando e agindo de acordo com as normas regimentais desta consagrada Academia de Letras. E a todos os meus parentes e amigos que vieram de longe para me prestigiar, nesta tarde ímpar em minha vida, meus mais profundos agradecimentos.

Para finalizar recitarei o poema “Elegia Pressentida” de Gabriel Bicalho, dedicado a José Afrânio Moreira Duarte por ocasião de seu falecimento em 03 de junho de 2008 e publicado no “Jornal Aldrava Cultural” n° 72 de Junho/Julho / 08:

“quando a borboleta negra / pousa em nossas trilhas/ fecha-se o sol e o girassol // amigo/ irmão / josé afrânio: / não faz escuro a teu redor! // anjos dialogam tua serventia / e o brilho que solitário emanas / transpõe fronteiras além céu: // é que deus convoca os puros / a espargirem luzes pelo cosmo! // estás definitivo e belo feito / estrela de primeira grandeza // : em absoluto silêncio / para o equilíbrio telúrico / de nossos quatro elementos! // e choro a indesejável surpresa / de tua ausência antes pressentida // agora // pelas alamedas da tristeza / os ciprestes se curvam / à tua eternidade!

Senhoras e Senhores:

É com muita honra que assumo a cadeira de n° 314 cujo Patrono é, “José Afrânio Moreira Duarte, que fez da “literatura sua vida, sua forma de comunicação, doação, de servir ao próximo, de amor à língua pátria.”

Muito obrigado.

Referencias Bibliográficas:
- “Jornal Aldrava Cultural n°: 28, 31, 34, 35, 37, 43, 49, 72.
- Do livro “Henriqueta Lisboa: Poesia Plena” – José Afrânio Moreira Duarte – Ensaio - EDITORA DO ESCRITOR – LUZ E SILVA EDITOR – São Paulo – 1996.
-“Cartilha do Cidadão”- Documentário Municipal – (Perfil Histórico, Econômico, Informativo, Cultural e Turístico – Editora Click - 1ª Edição – 2002 .Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Abaixo – MG.


J. B. Donadon-Leal faz discurso de saudação ao Patrono Lázaro Francisco da Silva

Discurso de saudação ao Patrono e à cidade natal


Exma. Sra. Elizabeth Rennó, Digníssima Presidente desta egrégia Casa de Letras,
Exmo. Sr. Luiz Carlos Abritta, Digníssimo Presidente Emérito desta egrégia Casa de Letras,
Ilma. Sra. Ângela Togeiro, digníssima secretária desta casa, madrinha desse nosso ingresso e oradora nesta posse,
Ilma Sra. Maria Conceição Abritta, oradora desta posse, em nome de quem cumprimento as demais autoridades presentes
Presidentes de academias aqui presentes,
Confreiras e confrades,
Senhoras e senhores,

Duas saudades em uma louvação

É uma honra para um poeta esse momento de posse em uma academia de letras, especialmente quando essa se dá em conjunto com seus parceiros de labor artístico. É uma honra pertencer à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, representando o Movimento Aldravista nascido no município de Mariana, desta forma também reverenciando o município de Mariana, embora representando o município de São João do Caiuá, Estado do Paraná, cidade onde nasci. E por ter chegado a merecer uma cadeira desta egrégia academia em função de minha atividade no movimento aldravista, é justo que meu patrono seja um dos fundadores desse movimento, o saudoso Lázaro Francisco da Silva. Assim, duas saudades se encontram aqui: a da minha terra natal e a do escritor Lázaro.

Vivo duas saudades boas nesta louvação. Saudade da cidade de minha infância, do caminho que percorria de jeep capota de aço, ano 57, entre a fazenda Rio da Prata e a sede do município de São João do Caiuá, Estado do Paraná, numa estrada arenosa, com lombadas de controle pluvial que arrancavam gritos meus e dos meus mais quatro irmãos. Meu pai ao volante, vez por outra solicitava que olhássemos para trás para ver se vinha algum carro. Carro como? Aquele era o único carro daquelas bandas! Íamos à missa na matriz do padroeiro São João Batista. Depois da missa almoçávamos na casa da tia Carolina e brincávamos com os primos numa correria só na praça da matriz. Folguedos de domingo! No entardecer voltávamos e embrenhávamos novamente na estrada arenosa entre cafezal, sob sinfonia de pássaros aninhando-se em aconchego para a noite rural. E não apontávamos estrelas para não dar verruga no dedo! E deitávamos cedo, porque acreditávamos que dormindo crescíamos. No cantar do galo despertávamos tão animais quanto todos os animais: lindos e saudáveis. Mas partimos dali e os ventos de tanto agosto foram soprando as areias do chão do grande quintal da sede da fazenda Rio da Prata e apagando as marcas dos meus pezinhos infantis. Minha cidade são meus olhos de menino. 46 anos depois, voltei à minha terra. Vi a igreja matriz e a praça em que pisei criança e abracei calorosamente minha tia Carolina, velhinha e linda. Pisei o chão arenoso e vi a pequena cidade de pouco mais de 6 mil habitantes materializando minha saudade cravada na memória. Seu aspecto interiorano deitado no silêncio de início de tarde de domingo acentuou a imagem de lugar encantado imune à ação do tempo.

A segunda saudade é a de LÁZARO FRANCISCO DA SILVA, poeta, editor, filósofo, professor aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto, nasceu em Sertãozinho, distrito de Borda da Mata, Minas Gerais em 19 de novembro de1942 e faleceu no ano de 2003. Entre plantadores, retireiros e criadores de gado, começou sua paixão pelos contos e causos, ainda menino. Filósofo e antropólogo, mestre em Filosofia Contemporânea. Lecionou na Universidade Federal de Ouro Preto, onde realizou diversas pesquisas sobre Cultura Popular. Foi Presidente da Comissão Mineira de Folclore. Um dos grandes idealizadores do Aldravismo – Literatura e Artes Visuais, com os poetas Gabriel Bicalho, professor Dr. José Benedito Donadon-Leal, Hebe Rôla, J.S.Ferreira; Dr. Luiz Tyller Pirola e posteriormente a artista visual Déia Leal. Foi o primeiro Vice-presidente da Associação Aldrava Letras e Artes e fez parte da Comissão Editorial do Jornal Aldrava Cultural até 2003, ano de seu falecimento.

No editorial da edição inaugural do Jornal Aldrava Cultural, Lázaro escreveu:
“Para usar uma palavra da moda, este é um jornal temático: literatura e cultura são os fios da trama que enleia seus idealizadores. A poesia, o conto, a crônica, o teatro... E do lado cultural a história que nos envolve, nos encanta e nos leva à ação. História de Mariana – Minas. Do particular para o geral, do regional para o nacional, em busca do receptor daqui e de toda a parte, Aldrava bate à portas – alguém em casa?”

Publicou entre outros livros: Aspectos folclóricos de Ouro Preto e Mariana, UFOP, 1984. Aspectos folclóricos II – cavalhada de Amarantina, UFOP, 1986. Jequitaia, UFOP, 1989 e A princesa que não ria, Ed.Lê,1989. Publicou dezenas de artigos, poemas e crônicas no Jornal Aldrava Cultural e revistas científicas. Editor de Jornais: poeZine (1985 – 1987), Cimalha ( 1997), Jornal Aldrava Cultural ( a partir de 2000). Editor de livros: Marília – sonetos desmedidos (1996) de meu livro de sonetos e Escravos do troncão (1997) – livro de contos e poesia de Camilo Leal.

Dos poemas seus, lembro Verbete

Parede sem janela é dita cega.
Ausência de sacadas e gerânios.
Nela Rapunzel não lança as tranças
nem a indiscreta luneta busca as formas.
Serenatas contornam o endereço
e estilingue no pescoço passa ao largo.
No lusco-fusco madrugada das fazendas
pomba-do-ar explode bomba fofa.
E no cenário do consumo citadino
já nela o out-door avança.
E preocupado com as coisas do folclore, presidente que foi da Comissão Mineira de Folclore, Lázaro Francisco da Silva brinda Minas Gerais com este belo poema, São Moisés, me ajuda!
Teu berço foi barco
e as vagas do Nilo
levam-te ao monarca
que te faz seu filho
Assim, teu destino.
se ligou à água
desde que és menino.
São Moisés, me ajuda
a beber do Arruda
na concha da mão!
Tu fizeste doce
a água do Meriba
conferindo vida
ao que amargo fosse:
tiraste da pedra
água especiosa
que entre cravo e rosa
até hoje medra.
São Moisés, me ajuda
a beber do Arruda
na concha da mão!
Faz-me em duas partes
o mar liquoroso
abrindo caminho
para o pé do povo.
Com a santa arte
desse teu bordão
separa a água pura
desta poluição.
São Moisés, me ajuda
a beber do Arruda
na concha da mão!
São Moisés das águas
que na estranha frágoa
viste a Jeová
em todo seu brilho
ouve-me, e eu prometo
sobre este barranco
entrar neste rio
com meu terno branco.
E depois do Arruda
Vou pedir tua ajuda
Pra outro Ribeirão.

Esta não seria uma louvação se não repetisse o que escrevi em abril de 2003: o aldravista Lázaro Francisco da Silva resolveu encerrar seu texto maior em 06 de abril de 2003 e fechou o livro de sua existência terrena. Foi, por certo, ser personagem de outros contos, em lugares que nossa visão pouca não alcança. Seu discurso contundente, sua pesquisa cuidadosa sobre a arte popular e o uso sem preconceito do termo folclore, sua voz de liderança incontestável continuam vivos nas produções literárias das barrancas dos ribeirões Arruda e do Carmo.

E para que seu discurso, sua literatura, sua pesquisa continuem vivos, nós (os aldravistas) o trouxemos conosco para a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, como imortal Patrono da cadeira 313.

E concluo esta breve louvação com os versos finais da elegia súbita do aldravista Gabriel Bicalho a Lázaro:
ai! Lázaro Francisco/
aldravista/ da Silva!

de imediato/
e não ao terceiro dia/
se eu fosse o Cristo
te ressucitaria!

Muito Obrigado.


Gabriel Bicalho faz discurso de saudação ao Patrono Antônio Brant Ribeiro


Exma. Sra. Elizabeth Rennó, DD. Presidente da AMULMIG, na pessoa de quem cumprimento os Componentes da Mesa e as demais Autoridades presentes;
Ilustríssimas Confreiras e ilustríssimos Confrades;
Senhoras e Senhores:

Nesta data festiva, de alma renovada, venho a tomar posse na Cadeira de número 312, desta imponente Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, trazendo como Patrono, o maiúsculo nome do saudoso e insigne pontenovense, ANTÔNIO BRANT RIBEIRO, sob a égide do qual manter-se-á esta Cadeira: ad perpetuam rei memoriam!
E, porque sabiamente nomeada Municipalista é a nossa Academia, compete-me, primeiramente, o dever da apresentação do município em que nasci.
Das frias páginas da web, ora aquecidas pelo calor da emoção que nos toma ao representarmos nossa cidade natal, compilo dados, exibidos pelos sites do IBGE e da : www.pontenova.mg.gov.br, sobre o município mineiro que me abrigou durante minha infância e minha juventude.

Ponte Nova – Minas Gerais:
Formação Administrativa:
Elevado à condição de cidade com a denominação de Ponte Nova, pela Lei Provincial nº 1300, de 30-10-1866.
A Cidade: Ponte Nova é um município brasileiro do Estado de Minas Gerais. Localizado na Zona da Mata Mineira, sua população estimada, em 2006, era de 70.344 habitantes.
Geografia:
O município localiza-se na Mesorregião da Zona da Mata mineira. A sede dista por rodovia 170 km da capital Belo Horizonte.
Gentílico: Ponte-novense.
Fonte: www.pontenova.mg.gov.br
Histórico:
NA SEGUNDA metade do século XVIII, uma comissão incumbida oficialmente de abrir uma estrada para a Capitania do Espírito Santo fez construir uma passagem provisória sobre o Rio Piranga, a partir de sua margem esquerda. A passagem não resistiu por muito tempo, construindo-se no mesmo local, por determinação das autoridades, uma ponte apoiada em pilares de pedra e que logo seria denominada ponte nova, origem do topônimo do Município.
As primeiras habitações começaram a surgir em 1770, quando o padre João do Monte Medeiros, obtendo provisão para construir uma capela sob o orago de São Sebastião e Almas de Ponte Nova, filiada à paróquia de Furquim, cedeu em doação, para patrimônio do pequeno templo, um terreno entre o córrego do Vau-Açu e a sesmaria da Vargem.
Fonte: IBGE

APOLOGIA AO PATRONO:
A partir deste pequenino discurso apologético, quero gravar na memória desta Academia, com o fogo perene de minha admiração, o respeitável nome de um dos intelectuais mais aclamados por seus contemporâneos:ANTÔNIO BRANT RIBEIRO!
Nasceu em Ponte Nova-MG, no dia 19 de março de 1910. Filho de Rômulo Ribeiro e de Vitória Brant Ribeiro. Casou-se com Maria da Glória Bitencourt Brant Ribeiro, com a qual teve quatro filhos: Vitória Bitencourt Brant Ribeiro, João Carlos Bitencourt Brant Ribeiro, Antônio Brant Ribeiro Filho e Mariana Laura Bitencourt Brant Ribeiro. Diplomou-se em duas escolas superiores: a Faculdade Nacional de Direito e a Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro-RJ. Como advogado, ingressou no Banco Mineiro da Produção, enquanto fazia sentir, concomitante, a robustez do seu talento de arquiteto, cujos trabalhos, de já consumado artista, espelhavam em lavores deixados no Pontenovense Futebol Clube, na sede em estilo colonial da Avenida Caetano Marinho e em Palmeiras, no encantador Jardim que compõe a Praça Cid Martins Soares. ANTÔNIO BRANT RIBEIRO não se conteve no exercício das profissões que lhe determinavam os valiosos diplomas universitários e foi além das expectativas, tornando-se um Cientista de reconhecidos méritos acadêmicos. Especialista em Foraminíferos, unicelulares, do que tratou em magistrais escritos: “Ammonia Multigranulata” (O problema da ocorrência de “Rotalia Cubensis” Van Bellen, 1941, em águas do Litoral Brasileiro); “Contribuição ao estudo das Tecamebas no Rio Piranga (Ponte Nova) e ensaio mineralógico e granulométrico dos respectivos sedimentos e das condições hidrológicas da área de coleta”; “Nova câmara letal para asfixia e expansão crítica de Moluscos Gasterópodos”; “Stainforthia Concava Hogulnd, 1947, em águas do Litoral Paulista”. O valor das inúmeras contribuições científicas atesta-se pela extensa correspondência do Dr. BRANT RIBEIRO com autoridades da América e da Europa e com os consumados especialistas do Brasil, daquela contemporaneidade.

NA ÁREA DA LITERATURA:
ANTÔNIO BRANT RIBEIRO assinou seus trabalhos literários com o nome de A. BRANT RIBEIRO e, também, com os heterônimos ÁLVARO BRUNO (Poeta) e FRADIQUE MENDES (Crítico Literário). Poeta primoroso, Crítico Literário de respeitável credibilidade, Tradutor (textos e poemas de Pierre Reverdy, Garcia Lorca e Pablo Neruda, dentre outros) e Jornalista Cultural de sucesso, sem mencionarmos suas demais atividades em prol da nossa Cultura. Capitaneou nomes da maior importância literária, em meados do século passado, para criação do Suplemento Literário do Jornal do Povo, de Ponte Nova-MG, que circulou por todo o país e estrangeiro, durante dois ou três anos, com tiragens bimensais. A. Brant Ribeiro teria editado apenas um livro de poemas, com a tiragem inusitada de um exemplar, intitulado “Gravura em Seda”, doado à Bibliotea Pública Municipal de Ponte Nova, segundo um dos seus herdeiros.
Privilegiando a mostra que farei da POESIA deste memorável Patrono, divido em quatro fases sua trajetória poética: atemporais, porém, distintas umas das outras.
Primeira fase:
Caracteriza-se a primeira fase através dos poemas elaborados segundo as normas clássicas de metrificação e ritmo, cujo trabalho mais representativo encontramos no sonoro “Rondó Arcáico em Redondilhas de Arte Menor”, do qual garimpamos o início: “Socorro! Correi, / amigos velozes, / mulheres que amei! // Socorro! Correi, / estancai, prendei / o rio que passa, / o rio que corre, / e os galhos esgarça, / os troncos arranca / e a terra esbarranca! // Socorro! Correi, / amigos velozes, / mulheres que amei!”... São versos de cinco sílabas, escandidos em redondilhas menores, bastante usados por nossos poetas árcades mineiros, que decerto terão influenciado A. Brant Ribeiro, não somente durante sua juventude física, pois que adiante teremos outro exemplo de poema com as mesmas características e data de 1950. Intitulado “CANÇÃO DE MAREAR” e com o seguinte intróito, “Que sonharia? / Não sei... Mas via...” ( de A. Damasceno Ferreira), vejamos a parte inicial do poema: “I // Eu sempre via, / pálida e fina, / a alva menina / dos olhos verdes... // Ou na sacada, / que ao sol sorria, / ou na janela / ensolarada / da casa antiga, / - eu sempre via, / pálida e só, / a alva menina / dos olhos verdes / triste, tão triste / de fazer dó...” (...) Trabalhado em redondilhas menores de quatro sílabas, este poema, também, não traz o rigor formal de pausar-se em estâncias controladas pela quantidade fixa de versos estróficos. Versejando de tal maneira, alguns de seus estudiosos o teriam rotulado como neo-clássico ou neo-árcade, provavelmente, na tentativa de creditarem a produção desses poemas à Geração de 45. No entanto, outros “neos” e “ismos” lhe servirão de rótulo, face ao talento experimentalista de A. Brant Ribeiro que se aplicou tão magistralmente a outros estilos, apesar de o autor nunca haver demonstrado preocupação alguma quanto a seu enquadramento em qualquer escola literária.
Segunda fase:
A segunda fase traz em seu bojo a continuidade dos exercícios poéticos de puro lirismo, com magistrais variações entre o romantismo e o simbolismo. Assim, podemos encontrá-lo no poema belamente intitulado “MINHA ÂNFORA DE ARGILA”, aqui exibido em seus versos iniciais: “Não sei se ela nasceu, como Afrodite, / das ondas verdes, musicais do mar... // Não sei se ela nasceu, como Afrodite, / toda vestida de sargaços verdes, / de brumas tênues ou de pálido luar... // Eu sei é que a minha ânfora de argila trouxe, / no ritmo envolvente e voluptuoso e doce / de suas curvas amplas e redondas, / a suave lembrança musical das ondas... // Não sei se ela nasceu, vestida de águas verdes, entre canas aquáticas e cisnes brancos, / como um lótus num lago solitário...”. Uma rica profusão de imagens codificadas em símbolos velados por brumas tênues e o poeta à cata de um ritmo próprio, oscilando entre versos decassílabos e versos de maior amplitude silábica, tentando libertar-se das amarras rítmicas da poesia tradicional. Estaria o poeta, assim, praticando o neo-simbolismo?
Terceira fase:
Na terceira fase, constataremos a evolução de A. Brant Ribeiro exercendo o pleno domínio técnico de sua poeticidade, com modulações de sonoridade agradabilíssima e uso de palavras escolhidas à força de uma habilidade amadurecida pela competência do verdadeiro Mestre em que se tornaria o nosso grande Poeta. Senão, vejamos este: “FAIR DEAL” // “A thing of beauty is a joy for ever” ( Keats ) /// Vende, amigo, o precioso e loiro pão / que em tua mesa humílima sobrou... // E compra depois, com a pequenina moeda / obscura de tua louca transação, / a flor supérflua, inútil, mas bela, / aquela, justamente aquela / que tanto te encantou !
Asserções de que este poema tenha sido escrito “aos dezoito anos de idade” carecem de pesquisa mais rigorosa, sem admitirmos questionamentos quanto à extraordinária competência técnica do saudoso Mestre. Melhor será não atentarmos a datas e valorizarmos o conjunto de sua encantadora Poesia. Então, vejamos o estupendo “EPIGRAMA SEM ALMA E SEM DESTINAÇÃO” /// “Ela chegou alígera, passo de garça, / cheia de luz, cheia de sol, cheia de graça, / borboleteando sua sombra pelo chão... / Parou; / e sobre a rua a sua sombra longa se espalmou... // Um fio irônico de sol, então, / fendendo, rápido, o cristal do ar, / – teso, reto, perpendicular, – / espetou sua sombra na lâmina do chão... // O fio de luz, por ironia, / fincou, no chão vadio, a sombra neutra e baça / da que era cor, da que era sol, da que era graça, / tal como um alfinete espetaria / qualquer inseto sem valor / na cartolina ilustre e fria / de algum bizarro colecionador...” //// {Suplemento Literário do Jornal do Povo, Ano II – Números 6 e 7 – página 3 – Setembro-1951}. /// Assim, teríamos o neo-romantismo de A. Brant Ribeiro, a esbanjar recursos semânticos e imaginação verbal de técnica impecável, em que ostenta aliterações e quiasmos magníficos, contidos em linossignos que se pautam em uma ritmopéia primorosa.
Quarta fase:
Na quarta fase, conheceremos o Poeta que se mostra sob o heterônimo ÁLVARO BRUNO. A partir deste enfoque, atentaremos à singularidade dos poemas em que o extraordinário poeta A. Brant Ribeiro se ocultou, decerto por motivos justíssimos, àquela época, em 1951, quando palavras que pudessem ocasionar estranheza aos conceitos religiosos, impostos a um país não laico, poderiam ocasionar um dano irreparável ao autor, cujo convívio com o lado eclesiástico da sociedade se fazia impositivo. Então, “FLOR DA MORTE”, “VERSÍCULOS PARA MEU TÚMULO” e “POEMA DOS OLHOS DISSOLUTOS” seriam poemas “profanos”, na concepção neo-barroca e assumiriam um caráter pagão indesejável ao nosso Poeta. Vejamos o “POEMA DOS OLHOS DISSOLUTOS” /// “Frutos ou pomos, meus olhos ficaram, / no galho impúbere, / apenas para, do cimo propício, mirar teu corpo / feito de jade e de jejuns. // O ázimo do teu seio e o dízimo do teu ventre, / como seriam, vistos do alto? // Procurei meus olhos para sabê-lo... // Mas, porque ficaste, entre esmeraldas, / amaciando a relva e ungindo as flores, / meus olhos no chão fui encontrá-los, // comungando o ázimo do teu seio, / esmolando o dízimo de teu ventre.” /// Ostentando a mesma performance poética do A. Brant Ribeiro já maduro e sem limitações técnicas, Álvaro Bruno concentra em suas palavras requintadas o que de melhor poderíamos aguardar de um poeta, mestre por excelência na arte do poetar: melopéia, fanopéia e logopéia sob pleno domínio, para gáudio dos seus leitores e deste quase desconhecido Autor, que meritoriamente vem a patronear esta Cadeira de número 132, que ora lhe dedica este humilde discípulo, com o carinho de quem conviveu com ele e chorou seu passamento, como quem chorasse a morte de um “Pai Intelectual”, em 19 de fevereiro de 1971, quando faltava, exatamente, um mês para a completude de seus sessenta e dois anos de idade.
O ano de 2010 será o ANO DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE ANTÔNIO BRANT RIBEIRO: que autoridades competentes de Minas Gerais venham a render-lhe o devido tributo!
AGRADECIMENTOS FINAIS:
Sou o Gabriel José Bicalho, de nome literário Gabriel Bicalho, já, orgulhoso da apresentação que de mim fez a excelente Escritora Conceição Parreiras Abritta, a quem devo incontáveis favores: sou-lhe muitíssimo grato! De uma gratidão permanente: a ela e ao seu distinto esposo, o Acadêmico Luiz Carlos Abritta. Confrades e amigos queridos, desde a UBT – União Brasileira de Trovadores, da qual são eles os máximos expoentes mineiros e à qual tanto me rejubilo de pertencer! Ambos multiplicam minhas possibilidades de superação dos obstáculos e de êxito, nesta jornada cultural à qual me entrego de corpo e alma.
Meus agradecimentos especiais, à excelente Escritora Ângela Togeiro pela indicação que fez do meu nome para este honorável Sodalício; às excelentes confreiras e aos excelentes confrades, pela recepção magnânima com que nos agraciaram; e, também, ao ilustre público presente, pela enorme paciência em ouvir-me: muito obrigado a todos!

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