Jornal Aldrava Cultural
Don Leal

O ARTISTA

Don Leal é Mário Donadon Leal. Nasceu em 3 de agosto de 1963. É licenciado em Letras (UEM), nas áreas de Língua Portuguesa e respectivas literaturas, artista plástico (pintor, desenhista, escultor) e poeta. Como artista plástico, foi premiado com o 1o lugar na “Mostra de Desenho Brasileiro” ocorrida em Curitiba (1987) e com 5 prêmios de publicidade pela Sol propaganda, em Maringá, onde atuou como diretor de arte nos anos de 1995 a 1999. Como poeta, participou do livro Passagens - Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná (seleção de Ademir Demarchi, Imprensa Oficial do Paraná) e já publicou poemas em diversas revistas. Em 2002 dirigiu o filme Estados Alterados e participou do espetáculo homônimo, apresentado na UEM. Já orientou oficinas de roteiro para cinema, teatro e HQ e cursou, durante dois anos, Licenciatura em Filosofia (UEM). Como desenhista projetista, atuou nos escritórios de arquitetura de Léo Grossman (1983 a 1987) e de Júlio Pechman (1987 a 1988), ambos em Curitiba.

Projeto em vídeo

Artanima 3

Artanima é um projeto de video-arte realizado por Mario donLeal e Giu Maranho, por meio animação de fotografias, cronofotografias e anamorfoses cronotópicas. vale a pena conferir o trabalho no YouTube. Clique no linque abaixo e veja o vídeo:

Exposições

Individuais:
Maringá - 2002

Coletivas:
Exposição Aldravista de Arte - Mostra internacional (Associação Aldrava Letras e Artes (Mariana - MG), Asociación Valentín Ruiz Aznar (Granada - Espanha). Museu Casa Alphonsus de Guimaraens, Mariana, MG, de 30 de maio a 10 de junho de 2007.

Telas na Exposição Aldravista de Arte - Mostra internacional

(Em cooperação com o Concurso Internacional de Artes Plásticas Antonio Gualda - 2006:
Museu Casa Alphonsus de Guimaraens, Mariana, MG, de 30 de maio a 10 de junho de 2007)


Caverna de Platão
Acrílica sobre tela

Praça monumento
Acrílica e alumínio sobre tela

EXPOSIÇÃO DON LEAL EM MINAS

(Obras pertencentes ao acervo do Ateliê Déia Leal - Mariana, Minas Gerais)

CATÁLOGO DE OBRAS


Elenir
acrílica sobre tela

 


Céu da Cidade
acrílica sobre tela

 


Confissão de domingo
acrílica sobre tela

 


Meninas na rua
acrílica sobre tela

 


Os filhos de Onofre
acrílica sobre tela


Tônica em tomo maior
acrílica sobre tela

(Pertence ao acervo particular de Luiz Tyller Pirolla)

 


Ensaio Floral 01
acrílica sobre papel

 


Ensaio Floral 02
acrílica sobre papel

 


Vaso de flores de Elenir
crayon sobre papel

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Outras obras representativas do artista


Camilo Leal
grafite sobre tela

 


Painel
acrílica sobre telas unidas com dobradiças


A máquina abstrata
acrílica sobre tela

Escultura


face direita

face

face esquerda
Prometeu
escultura em concreto celular autoclavado

 

 

Fortuna crítica

Discurso e ilusão de verdade*
(sobre a tela A Caverna de Platão)

J. B. Donadon-Leal
Doutor em Semiótica - Professor na UFOP

Uma tela de Don Leal, o Mário Donadon Leal, radicado em Maringá, Paraná, intitulada a caverna de Platão, embora represente apenas uma leitura da vida ilusória que se mostra aos olhos, com alguns produtos enigmáticos do engenho humano, mostra a luz da realidade como algo a ser percebido lá fora da caverna – talvez pelo discurso da filosofia, talvez pelo discurso da arte, talvez por outra engenharia discursiva.
Algo que poderia ser mais um enigma textual, uma tela, pode nos apontar algumas possibilidades interpretativas da vida cotidiana. Os textos são produtos observáveis e de fato existem. O texto é uma realidade observável. No entanto, o texto é uma caverna escura, cuja realidade observável é apenas a da aparência. Essa aparente realidade esconde um turbilhão de manifestações discursivas incontroláveis, de cujo domínio escapam muitos dos nossos investimentos de compreensão. Uma tela é um texto, observável e real; um depoimento é um texto, observável e real. Mas, o que dizem uma tela ou um depoimento?
A caverna de Platão, texto pictórico de Don Leal, toda azul, mostra no quadrante superior direito a boca da caverna, a claridade possível e exterior. Na boca da caverna projeta-se uma figura disforme, talvez humana. Abaixo dessa abertura uma pincelada da antítese claro e escuro, em que a claridade em figura retangular plana não pintada na tela, vazada, projeta sombra paradoxal retangular plana. A antítese claro e escuro produz o paradoxo claridade a projetar sombra. Contradição? Ilusão? Sobre o restante maior da tela azul, figuras quase rupestres de foguete, esboço de hastes helicoidais, pesos, álgebra, teoremas. Trata-se de uma designatio, nominativo, um texto constituído por uma expressão objetiva, a própria tela, em jogo com um designatum, algo designado, um conteúdo possível determinado por um recorte cultural. A tela objetiva é objeto apto a designar algo quando exposta ao olhar de um observador. Fora dele é apenas caverna escura. A tela, a pintura só existe diante do olhar mergulhado de recortes culturais. O olhar só propõe conteúdo a um objeto em exposição se desafiado a fazê-lo pela cultura. Fora disso, os objetos sequer são vistos ou percebidos. Impera a escuridão. Enquanto a designatio se apresenta como uma formulação objetiva, objeto mesmo, empírico, cabe lembrar que ela é apenas observável, isto é, se observável, pode não ser vista, pois apenas designação. Esta designação apresenta-se como indicação; portanto, o texto funciona como indicação de alguma coisa e não como a própria coisa ou representação dela; ele é portanto um signo indicial. A distinção fundamental é a de que a representação é aquilo que está no lugar de, enquanto uma indicação apenas enuncia uma possibilidade de existência que desafia ao desvendamento de um designatum – de alguma coisa existente na cultura. O texto pictórico da caverna de Platão enuncia que algo há na luz lá fora da caverna, mas o que se nos apresenta é apenas esboço de algo a ser procurado. Arriscam alguns a falar na ilusão perene diante dos olhos.
Em tempos de depoimentos diários nas CPMIs no Congresso Nacional, de enunciação da verdade e da mentira, nada mais próprio do que a escuridão da caverna a enegrecer qualquer possibilidade de desvendamento da verdade. Que verdade? A da ilusão de verdade. O depoimento, como qualquer outro texto, verbal ou pictórico, apenas se dá como indício de alguma coisa a ser procurada. Ele, como uma tela, não elucida. Um texto é um valerioduto: leva algo que não se sabe de onde vem, que não se sabe pra onde vai. Sabe-se que ele leva algo a que se chama de propina. O discurso é uma propina, pois jamais representa a verdade, apenas a indica como uma possibilidade. Por mais que os depoimentos apontem indícios de comprovação, mais cegos aparecem para duvidar desses indícios. Os olhos cegados pela claridade da entrada da caverna voltam-se para o seu interior escuro, onde o breu impede a visualização ou definição de qualquer imagem.
Dizem ser difícil interpretar uma tela. Digo ser igualmente difícil interpretar um depoimento. Os sentidos possíveis em ambos estão sempre para além da abertura de saída da caverna, estão na luz que cega as vistas. A voz do depoente, no entanto, tem peso de verdade. Este jura dizer a verdade e o faz sob pressão de inquiridores autorizados por instituições jurídicas em nome da verdade. A verdade, porém, é uma ilusão de verdade. Ela se dá na escuridão ou na claridade cegante da abertura da caverna. Quisera acreditar nas afirmações dos depoentes das CPMIs. Mas, eu acredito em Platão. Claro, acredito também em duendes e em Papai Noel.

*Publicado no Jornal Aldrava Cultural, nº 47, Agosto de 2005, pág 02.

 

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