Jornal Aldrava Cultural
A Poesia de Gabriel Bicalho

Gabriel Bicalho.

Poeta. Doutor Honoris Causa pela Academia de Letras do Brasil. Presidente da Associação Aldrava Letras e Artes. Membro da Academia Marianense de Letras e da Academia Barbacenense de Letras. Membro da Academia Marianense de Letras. Membro da Academia de Letras do Brasil - Mariana. Membro da Academia Pan-Americana de Letras. Membro da Academia Brasileira de Trovas. Delegado da União Brasileira de Trovadores - Sessão Mariana, MG. Premiado no Concurso nacional de poesia - Literatura para Todos - MEC/2006, com o livro Caravela - redescobrimentos. Autor também de Criânsia (1974), Euge, poeta! (1984), Poemas in: Aldravismo -a literatura do sujeito (2002); apesar das nuvens (2004) e enquanto sol - senda 02 de nas sendas de Bashô (2005). Lírios possíveis (2009).
Prêmio Mauro Mota (POESIA) 1º Lugar – (pseud. homem antúrio branco). Obra: Beiral antigo (setembro/2007)

Trovas de Natal

                                 Gabriel Bicalho
                                                                 (Notável Trovador)

Das esferas siderais,
celebremos com Jesus
os milhares de natais
por um só Natal de Luz!

Os sinos da Catedral
vão repetindo em seus dobres
que o bom cristão, no Natal,
nunca se esquece dos pobres!

Natal e loja enfeitada
em nada lembra Jesus:
Jesus viveu sem ter nada,
do berço de palha à cruz!

 


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Premiado no I Concurso Nacional de Poesia - Literatura para Todos - MEC/2006

Arquivo em PDF da Biblioteca Digital DOMÍNIO PÚBLICO

MIL LUZES - I
                                             Gabriel Bicalho

Amar-te ao menos uma vez, amar-te,
como se amasse tudo quanto Belo
fosse uma cor da luz que se reparte
no prisma indescritível deste anelo!

Amar-te ao menos uma vez, amar-te,
como se amasse a lã, que no novelo
da vida, fosse só desenrolar-te,
despir-te o corpo neste afã de tê-lo!

De amor tão puro quase me deleito,
ao ver-te delicada e sem defeito,
estátua que meu sonho perpetua!

E quando te conduzo para o leito,
acende-se uma chama no meu peito
e apagam-se mil luzes, lá, na rua!

 

ALDRAVISMO MESMO!

a cá
acadêmico
cadê a receita
da boa poesia?
cada seita
aceita
a oração do dia!

na igrejinha
quem reza o terço
quem tece o verso:
o cáustico crítico
ou o céptico poeta?

sem teoria:
verdade em poesia
é só ficção!

na literatura
o literato sem ato
e de atadura
atada a mente
literalmente atura
a dura crítica

na literatice
por mais que se atice
o ideal se apaga

minha poesia
filosofia de vaca
caminha e ri
da minha cacofonia

não ganhei nem perdi
meu dia:
ningúem me paga!

poesia é praga!

qual abracadabra
abrirá caminho
neste beco sem saída?

não importa
a porta
e sua trava:
bater aldrava!

findo o milênio
fechou-se o século
ao neobobismo
ao neo-qualquer-coisa
ao neo/néon:
o neo envelheceu!

viva
o ismo
a esmo:
aldravismo
mesmo!




Aldrava (acrílica sobre eucatex) Elias Layon


BI (ca) LHETE
(DO TEU JUÍZO) Final



Nenhuma inspiração na tal roseira
ou gritos de garis abrindo o poema.
Nenhum morto, enforcado na goteira
de teus pingos nos “is” e que não trema.

Quem vem de lá, mestrinho, vindo à beira,
pondo susto no rio enquanto rema,
afogando no texto a voz primeira,
com esses baldes de bruma sobre o tema?

A mão de Deus que do infinito desça,
a espremer-me as idéias na cabeça
ou puxar-te as orelhas, velha criança!

Duzentos olhos baços de esperança
e três eternidades de promessa,
a escrever teu soneto por vingança!

*****

minha vila


I
no bojo do teu nome
inda ressona
o mar de Portugal
II
és Mariana:
arquétipo barroco
das sagas lusitanas
III
em ti
o que persiste
de colônia
em tudo
me fascina
IV
amo-te enquanto Minas
começando aqui!
V
amo-te nas manhãs
de lírica atmosfera
dentre as brumas
(nesta calma)
VI
amo-te na singeleza
de vila quando a tarde
põe repiques de sinos
em minh’ alma
VII
amo-te à noite quando a lua clara
põe retoques de prata nas montanhas
e um céu inteiro belo se escancara
a estampar o infinito itinerário
das estrelas ao meu sonho navegante
VIII
amo-te amante
de um amor atávico:
há mais de três séculos
fluindo no meu sangue!


*****

ELEGIA II

gabriel bicalho

há um mar
que se agiganta
desde o pélago
em minh’alma

recordo-me
dos meus:
que de mim se foram:
pais / irmãos / avós

(hora
de ficar a sós)

uma tempestade
se aproxima
desta inconsolável
saudade

barco à deriva
vagando a esmo
busco ancorar-me
em mim mesmo

então
fecho todos os portos
à inominável solidão
dos mortos


Natal dos meus Avós na Infância
Gabriel Bicalho


I
Alguém instaurou a noite dos presépios
para o Natal dos meus Avós. Alguém
fabricou a árvore dos presentes mais brilhantes
e fê-la de um verde carregado a flocos brancos
para o Natal dos meus Avós. Alguém
tocou de leve os sete sinetes mágicos da Felicidade
pela Harmonia Universal dos meus Avós. Alguém,
que traz nos olhos o encanto das madrugadas celestiais
e, nas mãos, o generoso gesto daquele rotundo
Papai Noel da gente!

II
( No jejum dos corpos enfraquecidos,
Maria circunflexa o primeiro sorriso sobre o pequenino
corpo forte do Menino-Deus,
cujos braços abertos promovem a Fraternidade
entre os Homens e Animais de Boa-Vontade. )

III
Alguém transubstanciado
em minha carne de metamorfoses
instaurou a noite dos presépios messiânicos
para o Natal dos meus Bisavós, na infância!

 

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quem
não
tem
pão

nem
nome:
tem
fome!

isto
Cristo
cobra:

tudo
quanto
sobra!

Poema diagramado por Roberto Albarros e editado na Revista Natural, nº 25, 2007, pág. 62 Cachoeiro do Itapemirim, ES.

 

- ex/atos de marilianja –

I
o anjo barroco
num mundo oco:
não um anjo de barro e oco:
mas o anjo barroco
de carne e osso
num mundo oco.

II
mariliando meus olhos s.ó.s:
na angeliclara solidariedade
o anjo aperta a mão ao irmão
e o irmão parte a mão do anjo

III
na mão do anjo: uma pomba
na mão do irmão:uma bomba

IV
e que verde vale
a esperânsia dos seus olhos?

V
anjo/anja
num mundo/ /vazio

VI
urge alar anja

VII
urge mariliarejar a vida:
quem anjo(a) só fez AMOR

In: Criânsia. Belo horizonte: Imprensa Oficial, 1974.

bio/grafia

I
alfinete na língua
a palavra fere a
vontade de falar

II
sou poeta:
bio/logicamente sou
um poeta

III
no sangue circulante
em minhas veias circula
o alfabeto do sonho

IV
meu coração é
uma caixa tipográfica
e as sensações imprimem

V
dia a dia no meu ser
o estupendo poema
do viver

In: Criânsia. Belo horizonte: Imprensa Oficial, 1974.