Jornal Aldrava Cultural
Homenagem a Zizi Sapateiro


Homenagem de Camaleão a Zizi Sapateiro

 

Zizi sapateiro: patrimônio cultural da humanidade

José Ribeiro Santos (Zizi Sapateiro)
Nascido em 26 de maio de 1923
Falecido em 27 de setembro de 2007

dos sapatos ao céu
(Para o Artista Plástico Zizi Sapateiro)

gabriel bicalho

I
no começo não era o caos
mas as visões não se clareavam
e Deus fez surgir em tuas mãos
uma lata de tinta e um rude pincel
II
mas ainda foi preciso uma breve eternidade
para vislumbrares os mistérios
entre as cores dos sapatos
e as cores do céu
III
então o Senhor te ungiu
e fez de ti um Seu semelhante
tornando-te assim um criador
IV
e a ti foram revelados os segredos da Arte
para em testemunho da verdade
pintares do gênese ao apocalipse
V
e o Senhor te fez ver e pintar o sublime
nas sagradas feições da excelsa Madona
VI
e fez com que visses e pintasses o primitivo
do nosso cotidiano e da cidade em que vives
VII
e mais fez mandando a ti um anjo
que toma de tuas mãos e grafa veladas mensagens
para que te faças alerta
e humildemente venhas a ser do Senhor um p(r)o(f)eta!

In: Jornal Aldrava Cultural, Nº 25, Pág. 01
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SÃO ZIZI SAPATEIRO ARCANJO

(Carvalho Branco)

Zi...

             Zi...

                                              Z... umbe no ar

                O pincel do artista...

E o ritmo da poesia

                Repica na sola batida,

No couro surrado,

Sovado

         E escovado

                Pelo Sapateiro...

Tamborins... pandeiro...

A cuíca

                       repinica...

                 na vida assim vista...

E as trombetas e harpas dos anjos,

  Os bandolins, os banjos,

                    Ressoam no Paraíso...

         Zizi Sapateiro é só sorriso...

Balandrau branco,

         Pantufas,no local de sapatos ou tamancos...

Zizi Sapateiro agora é

o que sempre foi:

                  UM ANJO!...

Lá no Céu, onde não tem ladrão nem polícia,

ele já tem sua Sé...

Ao lado, é claro, de um atelier do artista...

Esbanjo

a notícia:

São Zizi Sapateiro Arcanjo!...

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Homenagem da Presidente do InBrasCI - Rio de Janeiro - Dra. Marilza Albuquerque
(Carvalho Branco)
ao artista plástico ZIZI SAPATEIRO.

A Primaz de Minas (Mariana) agradece o poema da Superintendente da CONFALB (Confederação das Academias de Letras e Artes do Brasil) desde o Rio de Janeiro.
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Zizi reinventor dos padrões

Zizi Sapateiro, pós Ocaso...

Dos Votos, ao artista que voou...

Zizi, na ponta dos pincéis, asas de colibri.

Deixou seu perfume nas almas flores dos amigos...

Deixou suas cores nas telas de seu estilo...

Que seja perene através delas...


Depois da festa espetacular do Ocaso, o céu ainda guarda as cores e os presenteia à Aurora... Resquícios, saudades... Em Mariana, a primeira cidade do Estado de Minas Gerias, no Brasil, um artista se vai... Muitas vezes, o céu chove, noutras, o rocio é o sinal do pranto.Muitas outras, até geadas são sinais... Mas os artistas, quais os poetas, jamais morrerão, se não deixarmos, pela apreciação perene de sua obra... Quando eu era mocinha,,em Juiz de Fora, conheci um pintor sapateiro, o Aluíso, que assinava "Aiama", em miniaturas mais-que-perfeitas, foi premiado na SBAAT, onde estudei com Clério de Souza, o Pimpinela. A pintora Vilcar, minha amiga, contou-me que ele fazia miniaturas porque não tinha dinheiro suficiente para telas grandes...
Que o Zizi jamais seja esquecido...
Clevane Pessoa...
Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007

Sapateiro / Pintor
(Para Zizi Sapateiro)

J.S.Ferreira


Sapateiro pinta
Ou não pinta?

Sapateiro bate sola;
o que lhe consola.

Sapateiro usa tinta
e cola:
mas a com que pinta
o sapato que cola.

Zizi Sapateiro
pintor primitivista
E tudo o que pinta cola!

In: Jornal Aldrava Cultural, Nº 25, Pág. 04
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Zizi na alegria do carnaval de Mariana
(Compositor e enredo)

ZIZI - PINTOR BRASILEIRO*
Elias Layon

Zizi Sapateiro, amigo de longos anos:
Já perdi a conta, amigo, do tempo que seguimos juntos, no mesmo caminho. Participando do mesmo ideal. Dos mesmos sonhos, Velados pelas brumas de Minas que nos inspiram. Ouvindo os mesmos dobres de sinos da Matriz... Acompanhando as mesmas procissões... Embalados pelas montanhas que nos abrigam e nos guardam.
O nosso, ainda é o mesmo casario da antiga Vila do Carmo. As ruas, as mesmas, que nos viram meninos. A mesma paisagem fria de inverno. E tantos amigos em comum... tantos. Em comum, também, os pincéis... Esses velhos companheiros de batalha: sempre de pé, em sentinela, em seus postos, em seus potes. Nos chamando... Nos instigando a uma nova obra em novas cores. Feito a vida que se renova. Sempre multicolorida. Fugaz. Porém, mágica! Capturada em algum instante, pelos pincéis e as tintas, no desafio do branco intenso e leitoso das telas. O branco de cada tela é um enorme desafio, Zizi Brasileiro, que nos chama à luta. Sempre nos chamando à luta.
E a sua coragem de pintor primitivista... ousado... criativo... singular já venceu esse branco, criando milhares de pinturas, que levaram o nome de nossa terra natal ao mundo, nos dando com isso o seu exemplo maior de garra e dedicação obstinada à arte.
A vida, também, não pode ser apenas essa superfície branca, vazia, fria, sem nada. E nós estamos aqui, hoje, reunidos para lhe dizer exatamente isso. Diversificados como nos tons de um quadro. Porém, em harmonia no conjunto e no colorido dos amigos que soube amealhar ao longo de seus 80 gloriosos aninhos.
Estamos aqui, neste encontro espiritual, sintonizados com a beleza secular da Igreja de São Francisco, para lhe ofertar o nosso carinho, o nosso abraço, neste dia tão especial.
E que ainda possamos caminhar, por muito tempo, juntos, a ouvir o canto dos pássaros marianenses, banhados pela luz matutina dos dias frios de maio, no mesmo calor da amizade e coleguismo
de tanto tempo.

*(Saudação do Layon, “O Pintor das Brumas” ao ZIZI SAPATEIRO, pintor Naïf, - mundialmente renomado e admirado por suas telas espetaculares, plenas de imaginação e de criatividade -, durante a Missa Comemorativa de seus 80 anos de idade, completados em 26/05/2003 e festivamente comemorados por seus inúmeros amigos e familiares, em 31/05/2003).

In: Jornal Aldrava Cultural, Nº 25, Pág. 01

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Entrevista



In: Jornal Aldrava Cultural, Nº 05, Pág. 06

 

ZIZI SAPATEIRO

Andréia Donadon Leal

Da sola do sapato
na arte de esculpir
remendos e consertos:
Anjo Zizi sapateiro.

Sapatos descolados
esburacados
nas mãos do artista
:
renov [a] ção.

Mãos ágeis
no martelo que prega
pregos
na sola do sapato,
nas mãos do artista
:
ressurreição.

No alto das montanhas
escutei marteladas na sola
do sapato;
nenhum moinho rodopiava
com o bafo da brisa matutina,
silêncio silencioso dos dobres dos sinos
do canto dos pássaros
:
todos nos acordes
das batidas repicadas de
Zizi Sapateiro.

Da arte na ponta do martelo
se fez na ponta dos pincéis
e
gerou vida.

Anjo Zizi Sapateiro,
pintor imortal
que rei ventou
na tela
:
imagens da vida.


Saga de Pintor*
( Hebe Rôla)

O Pintor Sapateiro diante do firmamento
é pássaro
voante
toante
que trilha nas nuvens
o caminho
arminho
do pincel.
O Pintor sapateiro diante do som
é colcheia ou fusa
que tece acordes
recordes
no canto
encanto
da canção
exortação
O Pintor Sapateiro diante da pedra
da nossa calçada
da madeira dos altares
do ferro das nossas montanhas
é formação
é renovação
é bigorna
que talha
retalha
corta
recorta
O Pintor Sapateiro
diante de Mariana
é saga de bandeirantes
é sonho de Alpoim
é arquitetura de Arouca
é prece de Athayde à Virgem do Carmo
O Pintor Sapateiro diante da História
é poeta
é profeta de Alphonsus
é pena
que traça amena
a coroa da Princesa
a memória de sua glória
O Pintor Sapateiro diante da tela
é ardor de vela
é anjo diante de Deus
que guarda
que luta
que vibra
que labuta
que pinta
na tinta da alma
e se extasia
na grandeza
nobreza
de um risco
rabisco
que o faz imortal

*Publicado no Jornal Aldrava Cultural, 66, pág 08 e foi capa do site do Jornal Aldrava no mês de setembro de 2007

 

*Entrevista dada a Cacá Drummond publicada no Jornal Aldrava Cultural, 56, pág 08.

Adeus Zizi Sapateiro

Elias Layon

Os campanários da velha catedral de Mariana, em dobres lúgubres, anunciaram a viagem eterna do artista plástico pintor Zizi Sapateiro. Deixa um triste e impreenchível vazio em todos nós, amigos, colegas e parentes. A cultura da primaz de Minas mais empobrecida daqueles verdadeiros valores de expressão popular, brotados das searas mais simples de nossa gente. Zizi veio dali, oriundo do ambiente de uma modesta oficina de sapateiro para se tornar nome mundial através de sua arte primitivista .De berço humilde, mesmo no auge de sua gloriosa carreira, repercutido nacionalmente pela mídia ,nunca perdeu a beleza de sua simplicidade no contato com todos que dele se aproximavam . Sempre alegre e generoso distribuiu, ao longo de seu viver, os mais honestos valores de caráter e honradez no cumprimento fiel de suas obrigações materiais e espirituais.

Na profissão de artista plástico nos legou o melhor exemplo de perseverança e luta na trajetória ‘a escala vitoriosa na arte. Um trabalho obstinado, de 40 anos, na crença segura de seus próprios valores artísticos, mesmo incompreendido e criticado em sua terra, alçou o que jamais podia sonhar na difusão de seu trabalho onde mais de 10.000 pinturas, geniais e criativas, foram parar nas grandes coleções mundiais.

A obra desse genial artista tão volumosa e significativa, impregnada de poesia e lirismo ,em que predomina a religiosidade e o conhecimento razoável que possuía da Bíblia, ensinados na pequena escolinha de Cônego Braga que freqüentou durante a juventude , merece um estudo minucioso e ‘a parte dos temas folclóricos que abordou.

Zizi se foi. Mas não podia ir rapidamente. Mesmo na sua dolorosa doença soube lutar com garra, como era de seu caráter perseverante e obstinado, por mais de um ano ‘a enfermidade a que por fim sucumbiu . Ele partiu para junto daqueles verdadeiros marianenses que souberam amar e contribuir para a cultura de nossa cidade. Ali no infinito, sua alma glorificada e assistida por anjos e arcanjos, descansará em paz, missão cumprida, junto aos grandes conterrâneos que aqui deixaram obras relevantes ao nosso município como as de um memorável Dom Oscar de Oliveira, Mons. Vicente Diláscio, Lauro Morais , Moura Santos e o querido colega Manuelzinho Chaves que fora tão precocemente.

Zizi partiu, mas a sua poética obra permanecerá para sempre a pulsar e nos dizer de sua vida e de sua trajetória terrena no sentido verdadeiro de arte e de cultura , bens permanentes muitas vezes mal interpretados e desvalorizados pela contemporaneidade.
.
Geraldo Zuzu, durante o velório do mestre na Câmara Municipal,em emocionadas palavras de despedida ao velho amigo sugeriu , brilhantemente, o Memorial Zizi Sapateiro . Que essa idéia possa frutificar ainda na gestão do atual prefeito Celso Cota que não mede esforços e paciência para consolidar o acervo de bens históricos arquiteturais de Mariana. Quem sabe, e deixo aqui a sugestão, o novo centro de convenções da cidade não poderá ser denominado Centro de Convenções Zizi Sapateiro ,onde se pudesse abrigar ao mesmo tempo seu memorial , incluindo ali um mausoléu que resguardasse para a posteridade os restos mortais daquele amado e reverenciado artista que soube engrandecer com simplicidade a arte e a cultura popular de Mariana e do Brasil. O artista nos deixou um significativo e volumoso acervo de material jornalístico e centenas de pinturas, colecionadas desde o início de sua vitoriosa carreira em 1967 ,que poderão algumas delas, selecionadas ano ‘a ano , serem incorporadas ‘a esse Memorial, junto a objetos pessoais do artista.

No meu preito ao Zizi fica a saudade, a gratidão profunda e o amor filial.

Adeus Zizi Sapateiro!

Texto publicado no Jornal Ponto Final, Ano XIII, nº 412