Semana Luso-Brasileira
Lisboa, 6 a 10 de Abril de 2013

Relatório de dia 08 de abril de 2013


Poetas Aldravianistas no portal da Biblioteca Nacional - Lisboa


Programa:

Segunda-Feira, dia 8 de Abril:

15.00 Horas – Visita Guiada às Exposições “Escritoras Brasileiras Editadas em Portugal” e “Literatura de Cordel Brasileira”, ambas patentes na Biblioteca Nacional de Portugal, acompanhada Professora Doutora Ana Cristina Martins.


Livro Contestado Fruto, de Cláudia Gomes Pereira, Membro da ALACIB, em exposição "Escritoras Brasileiras editadas em Portugal"
Biblioteca Nacional - Lisboa

Livro Contestado Fruto, de Cláudia Gomes Pereira, Membro da ALACIB, em exposição "Escritoras Brasileiras editadas em Portugal"
Biblioteca Nacional - Lisboa




17.30 Horas – Recepção na ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, pela Secção de História do Património e da Ciência e pela Secção de Genealogia, Heráldica e Falerística do CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da FCSEA - Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Conferência por Poeta Aldravista, da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas
Cerimónia Académica
19.30 Horas – Jantar Informal na Cantina da Universidade
21.00 Horas – Cerimónia Académica no Salão Nobre da Academia Portuguesa de Ex-Líbris
- Inauguração da Exposição: “O Esplendor do Ex-Líbris Brasileiro, nas Colecções Portuguesas”
- Lançamento de O Livro das Aldravias – Nova Forma/Nova Poesia
- Lançamento do Livro O Pão Nosso - Aldravias Portuguesas, de Vítor Escudero
- Distribuição de Diplomas e Insígnias da Academia Portuguesa de Ex-Líbris
- Distribuição de Diplomas e Medalhas da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas

 

Conferência "Aldravia - a boa-nova da poesia", na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Cerimónia Académica

Em 08 de abril de 2013, no auditório Armando Emílio Guebuza, na Biblioteca da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa, houve cerimônia acadêmica em que o poeta aldravista Prof. Dr. J. B. Donadon-Leal fez a conferência "Aldravia - a boa-nova da poesia". Como debatedores pronunciaram-se a Profa. Dra. Giselia Felício (Diretora da Biblioteca da Universidade), a Dra. Ana Cristina Martins, Mestre Benito Martinez, o Dr. José Luiz Foureaux de Souza Júnior e o Dr. Vítor Escudero. Membros da SBPA presentes:Andreia Donadon Leal, Amélia Luz, Gabriel Bicalho, J. S. Ferreira, Benedita Azevedo, Cecy Barbosa Campos, Maria Goretti Freitas, Marília Lacerda, Marilza de Castro, Vilma Cunha Duarte, Zaíra Martins e Cátia Lemos Fonseca. Os escritores brasileiros foram nomeados Membros Correspondentes Honorários do Seminário de Genealogia e Heráldica da ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - Lisboa e receberam Diploma que comprova tal honraria. Lançamento dos livos Pão Nosso, de Vítor Escudero (Lisboa, Portugal) e Crepusculares - aldravias, de Cecy Barbosa Campos (Juiz de Fora, Brasil).


Banner oficial do evento - auditório Armando Emílio Guebuza



Mesa de trabalhos: Mestre Benito Martinez, José Luiz Foureaux (debatedor) , Dra. Giselia Felício (Presidente),
Dr. J. B. Donadon-Leal (conferencista)
e Dra. Ana Cristina Martins


Visão panorâmica da conferência


Mestre Benito Martinez e Vítor Escudero (debatedores)


Andreia Donadon Leal faz pronunciamento em nome da ALACIB


Dra. Giselia Felício (diretora da Biblioteca da Universidade Lusófona)
recebe de Gabriel Bicalho livros da Aldrava Letras e Artes


Mestre Benito Martinez recebe Diploma de Mérito Cultural ALACIB


Mestre Benito Martinez recebe Diploma de Mérito Cultural Aldrava Letras e Artes


Dra. Giselia Felício (diretora da Biblioteca da Universidade Lusófona) recebe Diploma de Mérito Cultural ALACIB


Dra Ana Cristina Martins autografa livro de sua coordenação: Mendes Correa - 1888-1960

Livros lançados no evento


Cecy Barbosa Campos lança o livro Crepusculares - aldravias
Mestre Benito Martinez recebe o livro em nome da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias





Cerimónia Académica no Salão Nobre da Academia Portuguesa de Ex-Líbris
- Inauguração da Exposição: “O Esplendor do Ex-Líbris Brasileiro, nas Colecções Portuguesas”
- Lançamento de O Livro das Aldravias – Nova Forma/Nova Poesia
- Lançamento do Livro O Pão Nosso - Aldravias Portuguesas, de Vítor Escudero

Em 08 de abril de 2013, na sede da Academia Portuguesa Ex-Líbris, em Lisboa, houve cerimônia acadêmica em que o poeta aldravista Prof. Dr. J. B. Donadon-Leal fez pronunciamento de saudação à nova poesia brasileira. Participaram do evento membros da SBPA, Andreia Donadon Leal, Amélia Luz, Gabriel Bicalho, J. S. Ferreira, José Luiz Foureaux, Benedita Azevedo, Cecy Barbosa Campos, Maria Goretti Freitas, Marília Lacerda, Marilza de Castro, Vilma Cunha Duarte, Zaíra Martins e Cátia Lemos Fonseca. Os escritores brasileiros foram nomeados Membros Correspondentes da Academia Portuguesa Ex-Líbris e receberam Diploma que comprova tal honraria.


Escritores Portugueses e Brasileiros participaram da reunião


Diretoria da Academia Ex-Líbris e da SBPA compõem mesa de trabalhos
Arquiteto Segismundo Manuel Pamires Pinto (à direita) fez o discurso oficial


J. B. Donadon-Leal faz pronunciamento em nome dos escritores brasileiros


A ALACIB reconhece valores de escritores portugueses


Comandante Sérgio Avelar Duarte - Presidente da Academia Ex-Líbris recebe Diploma de Mérito ALACIB


Vítor Escudero faz leitura-declamação de aldravias


Comandante Sérgio Avelar Duarte - Presidente da Academia Ex-Líbris

Paletra proferida por J. B. Donadon-Leal

Aldravia – a boa-nova da poesia brasileira
J. B. Donadon-Leal
Presidente da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas
Presidente Executivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Editor da Aldrava Letras e Artes
Doutor em Semiótica – Professor no Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto

Cumprimento os componentes desta mesa, Mestre Benito Martinez, Dr. José Luiz Foureaux (debatedor/UFOP), Dra. Giselia Felício (Presidente da Biblioteca da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias), Dra. Ana Cristina Martins e Dr. Vítor Escudero, Presidente desta seção plenária.

Senhoras e senhores, eu pronuncio-me aqui, mas meu pronunciamento não é meu. Sou enunciador do aldravismo e faço ecoar as vozes artísticas de Andreia Donadon Leal, de Gabriel Bicalho, de J.S. Ferreira e de José Luiz Foureaux que comigo deram alma, corpo e visibilidade ao aldravismo. Faço ecoar as vozes dos poetas aldravianistas que conosco vieram para trazer a boa-nova da literatura – a aldravia que, neste país de conquistadores dos mares e desbravadores de terras novas, há de soar como retribuição ao legado cultural que recebemos com esta língua de sonoridade ímpar – a língua portuguesa.

O aldravismo, na despedida do século XX, nasce de um sonho – sonho de batear os rejeitos deitados no leito do ribeirão do Carmo, ao redor do qual cresceu Mariana, a cidade mineira criada por ordem de D. João V na abertura do século XVIII. Talvez de lá saíssem faíscas de ouro. Diziam ser mais uma vã tentativa. Diziam ser mais uma estupidez, dessas de arriscar a saúde, pondo pés em águas contaminadas, na esperança de encontrar alguma riqueza que podia não estar lá; uma espécie de Sabarabuçu, eldorado jamais alcançado pelas bandeiras que desbravaram o interior selvagem do Brasil. Diziam da insanidade de poetas, tentando ressuscitar o século XX que morria marcado pelas profecias apocalípticas de fim da poesia, de fim dos tempos. Tempo e espaço para a criação não havia mais – a poesia estava morta! Mas, nasceria outro milênio com a responsabilidade de ser portal de esperança, para uma humanidade acomodada na reprodução de fazeres pela garantia da sobrevivência. Que esperar dessa desesperança? Os poetas insanos entraram a última década do século XX ainda na onda fanzine, legado dos poetas marginais de alguns anos antes e saíram dela com bilhetes de embarque em uma nave que os levaria a estações da nova poesia. Era preciso criar alguma coisa. Era preciso avançar. Era preciso ousar. Mas, ser ousado não é bradar nem grafar palavrões; é propor coragem onde o medo impera, é desafiar a ordem calcificada na tradição e no comodismo. Bateia não havia mais, mas as velhas aldravas penduradas nas portas silenciosas esperavam por mãos desejosas de portas abertas... Que se libertem os poetas de seus cárceres privados! Que os olhos voltados para o chão de seixos irregulares e escorregadios fitem horizontes distantes – gritavam os poetas de Mariana ninando o bebê Jornal Aldrava Lítero-Cultural (alternativo) que acabava de nascer como arauto do século XXI, naquele novembro de 2000. O jeito Tomé de ser mineiro não apostava na sobrevivência do neonato sem pedigree. Mas, como é boa a sensação de inaugurar linhagem! Do mezanino do Café Dois Mil na Praça da Sé de Mariana, do ateliê do Camaleão na subida do São Francisco e do porão do Minas Bar na Rua Direita emanavam ideias de inovação na poesia para o século XXI. Eram os poetas aldravistas que já se faziam identificar pelas ruas de Mariana. O objetivo, no entanto, era o horizonte, era levar a poesia para o mundo, contrariando a ordem da cultura nacional de importação artística. Se todos os demais movimentos artísticos brasileiros foram buscar no exterior um modelo a ser aplicado aqui, o aldravismo nascia com a proposta de criar uma forma genuinamente nacional de arte, sem o estigma tatuado na derme cultural brasileira, aquele da cópia ou da adaptação.

Tive o prazer de apresentar o livro de aldravias intitulado “crepúsculos”, de Cecy Barbosa Campos, num prefácio que enuncia as implicações de estarmos no mundo como sucessores e antecessores de alguém e, como tal, temos a nobre obrigação de permitir que o mundo continue a existir e, se possível, melhor. Trata-se da consciência de que não devemos ter a pretensão de reiniciar o mundo, nem o direito de interromper o que já foi iniciado; como diz Foucault em A Ordem do Discurso: “queria iniciar, mas tenho que continuar”.

A consciência da necessidade de continuar algo incompleto mantém a vontade de progredir, de prosseguir, de modificar o status do mundo que se apresenta no presente. Essa incompletude discursiva serviu de força motriz aos poetas aldravistas de Mariana na decisão de optar pelo uso da metonímia como figura primordial da sua produção artística. O resultado desse investimento aldravista no interminável foi a proposição de uma forma de texto poético que implicasse todas as noções fundamentais da poesia – a concisão, a provocação à continuidade, a superação da simplicidade da metáfora pela provocação da metonímia, a musicalidade e a beleza plástica. Criada em dezembro de 2010, a aldravia conquistou nesses dois anos de existência o coração de poetas brasileiros e europeus, que semeiam essa nova forma como semeadores de boas aventuranças; e cada aldravia é uma voz que sussurra: é preciso continuar, é preciso continuar...

No entanto, a significação desse continuar não é algo a assombrar a literatura do presente na estabilidade das formas e dos autores canonizados pelos manuais didáticos. Até parece que literatura é sempre a abertura de testamentos e divisão de espólio de gerações anteriores. A forma e os nomes do presente são gritos vãos por reconhecimento, uma vez que reconhecimento no atual mundo-imagem é sucesso de vendas de um xou em sua redundância espetacular de montagem cenográfica e coreográfica. Certas formas artísticas, no entanto, não são dadas aos xous.
Em muitos lugares há a noção de que as formas poéticas são heranças das tradições europeias, no entanto, entre os poetas do movimento aldravista, as formas poéticas são vivas e, igual à língua, sofrem mudanças e evoluem junto com todas as coisas do universo. O movimento aldravista nasceu em Mariana, MG, no ano de 2000 e produz arte para a inovação, a partir de insinuações representativas de metonímicas das coisas e das sensações do mundo.
Os poetas desse movimento criaram uma nova forma de poesia – a aldravia – poesia de naturalidade brasileira, sem qualquer apropriação adaptada de uma forma europeia já experimentada e já desgastada pelo uso nos mais diferentes centros culturais desse belíssimo velho continente. A aldravia é atual, sólida em sua verticalidade paradigmática e volátil em sua horizontalidade paratática. Esses eixos não são representações da dicotomia saussuriana, mas tensões a partir das quais os interdiscursos instauram possibilidades múltiplas de eclosão de vozes sociais indomadas, inconformadas nas limitações dos casulos. Na direção descendente, a linha paradigmática constrói a sintaxe associativa, aditiva de itens lexicais que na discrição matemática formam conjunto – texto em sua completude coesa e coerente, mas discurso em sua paradoxal incompletude.

fio
tênue
discurso
filosofal
liberdade
poética
Andreia Donadon Leal espuma
apruma
tempestade:
convés
és
saudade!
Gabriel Bicalho nem
noite
nem
dia

fantasia
J.B. Donadon-Leal silenciosa
lagoa
ouve
concerto
dos
sapos
J.S. Ferreira infinito
líquido,
submersa
amplidão:
plenitude
perene
J.L. Foureaux

Não se trata de dispor uma frase numa pilha de palavras; fazer aldravia não é empilhar palavras, mas construir um poema na sua mais nobre acepção: forma artística construída por semiótica verbal. Trata-se, portanto, de uma elaboração artística na modalidade linguística que, pela brevidade da forma, requer habilidade na arquitetura de proposições textuais para além das frases comuns, para obter o máximo de conteúdo no mínimo de palavras.
Essa forma textual – aldravia – é adequada para a consecução da síntese, não de resumos temáticos, mas de proposições indiciais, metonímicas, de avaliações, sensações, emoções, imagens, comparações, suspiros, desejos, sonhos, criticas... Assim, a forma (não fôrma), que sugere, mas não obriga um encadeamento paratático livre, sem as prisões da pontuação e sem a prisão das iniciais maiúsculas, consigna um espaço no qual a sugestão, por contiguidade ao que o leitor a ela justapõe, toma corpo de acelerador de partículas, sendo capaz de gerar concentração de energia, cujo uso será definido segundo o propósito desse leitor.
Essa novidade poética, sugerida e nominada por Andreia Donadon Leal, elaborada poeta Gabriel Bicalho, justificada teoricamente por mim em discussões e experimentações iniciais também com J. S. Ferreira tomou, em dois anos, abrangência nacional e internacional. Poetas de todas as partes do continental Brasil estão produzindo aldravias. Poetas Portugueses, Franceses e Espanhóis também. A Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas já conta com 76 membros efetivos. Dois livros de aldravias editados no Rio de Janeiro já receberam traduções para o francês e Espanhol e um deles recebeu prêmio da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. O texto introdutório do livro Germinais – aldravias {nova forma, nova poesia}, livro inaugural das aldravias, foi traduzido para o francês, publicado no livro Écrivains Contemporains du Minas Gerais, lançado no Salão do Livro de Paris e em calorosa recepção aos poetas aldravistas na Academia de Letras e Artes, Monte Estoril, em março de 2012.

A arte de derrubar muros, de derrubar mitos está na fundação que sustenta o aldravista desejo de criar. Eis que brasileiros podem também inaugurar linhagem.

O Livro das Aldravias que ora apresento para o nobre público português é mais um prêmio a esta nova forma poética. Mais de 50 poetas participantes, representantes de todas as regiões brasileiras, de Portugal e da França. 1224 aldravias, 1224 provocações metonímicas na consolidação dessa nova forma, como medalha de ouro pela coragem de ousar criar novidades em terra de importação de modelos e paraíso da indústria de montagem.
Parabéns aos e às poetas que conosco ousam fazer trilha nessas terras sáfaras da poesia nova, ainda sem as bênçãos da canonização pela tradição; parabéns aos e às poetas que conosco inventam caminhos novos e deixam esse legado valioso para a história da literatura universal!
Depois de lançada a semente desta nova forma, em dezembro de 2010, os 50 participantes de O Livro das Aldravias já são leitores-poetas que atribuíram positivamente o kantiano juízo estético e consideraram universal a proposição inicialmente específica, em mais uma aplicação extensiva da noção de metonímia – do particular se alcança o geral.
Esta grande obra é, ser metafísico, consubstanciação das vozes discursivas dos poetas que habitam seus corpos físicos e, no mais profundo sentido da provocação, será semeadura para lavouras e lavouras e lavouras de novos poetas para novas poesias.
Nós, aldravistas brasileiros, louvamos o poeta Victor Escudeiro pela edição do criativo livro Pão Nosso – aldravias portuguesas, primeiro livro de aldravias criado e publicado em Portugal; louvamos todos os poetas portugueses que, com graça, tornam a nossa língua – portuguesa, brasileira e de outras grandes nações – uma dádiva dos céus, maná que sacia nossa fome de sabedoria com arte.

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APOIO
:
Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais
Prefeitura Municipal de Mariana

Editado por J. B. Donadon-Leal
Lisboa, 9 de abril de 2013