Jornal Aldrava Cultural
A Crônica de Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior

 


Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior

Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior nasceu em Juiz de Fora/MG em 25/04/1982. Cursa Letras/Noturno na UFJF. O autor começou a escrever em outubro de 2003. Participou das seguintes séries de antologias: Contos de Autores Brasileiros Contemporâneos volumes 11, 12, 13, 15 e 21; Contos Fantásticos 1, 2 e 10; Encontros & Desencontros; Poetas Brasileiros Contemporâneos: 18, 22, 28, 29, 33 e 40; Livro de Ouro da Poesia Brasileira edições 2006 e 2007; Panorama Literário Brasileiro 2006/07 e 2007/08; Doce Loucura 2007; Os Mais Belos Poemas de Amor 2006; Poemas Dedicados 2006; Novos Talentos da Crônica Brasileira 1,2 e 3, sendo essas publicações da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, sediada no Estado do Rio de Janeiro. Publica (e colabora como digitador desde novembro de 2005) no Jornal do Poeta desde novembro de 2004. No jornal Terra das Geraes, de São João del-Rey, publicou dois poemas e um conto em 2005. Integrou as antologias Contos ao Mar e Folhas ao Vento da Editora paulistana Andross em 2006 e 2007, respectivamente. Participou de duas edições do Projeto Curta Poesia do jornal carioca Intervalo em 2006. Faz parte, sendo o único poeta de Minas Gerais, da Antologia de Poesia Amorosa compilada pelo poeta peruano Santiago Augusto Risso, a qual conta com participações de poetas da América Latina, Europa e África, no ano de 2006 e da Coletânea do Primeiro Congresso de Poetas del Mundo(Natal/RN – 2008). O poeta recebeu os seguintes prêmios em certames literários: Menções Honrosas: III Concurso de Poesias do Jornal do Poeta em 2005; IX Prêmio Missões Jornal Igaçaba (Roque Gonzales/RS) em 2005; IV e V Concurso Literário virArte (Santa Maria/RS) em 2007/08; Prêmio Mendonça Júnior de Crônica e Poesia (Alagoas/2007); Classificação para integrar a antologia do concurso Valdeck Almeida de Jesus de Poesias 2007; Classificação Especial no XI Prêmio Missões (Tema: Ecologia) em 2008; Terceiro Lugar: XI Prêmio Missões (Crônica Nacional) e V Concurso Literário virArte em 2008; Medalha de Prata no XVII Concurso Nacional de Poesia Acadêmico Werner Horn 2006, Medalha de Ouro no XVIII Concurso Nacional de Poesia Acadêmico Florestan Japiassu Maia 2007, ambas da Academia de Letras e Artes de Paranapuã (ALAP/RJ); Primeiro Lugar: X Prêmio Missões (Poema Nacional) em 2006; V Festival Nossa Arte Mérito Nacional 2006 (Itatiba/SP); XI Prêmio Missões (Poesia Internacional) em 2008, tendo feito parte das antologias dos referidos concursos ou sendo publicado o texto vencedor em periódicos locais. É sócio do Projeto virArte desde 2007; é cônsul da cidade de Juiz de Fora no Projeto Poetas del Mundo (www.poetasdelmundo.com), sediado em Santiago/Chile, desde 2007. Possui aproximadamente 160 textos publicados nos sites www.recantodasletras.com.br e www.usinadaspalavras.com com mais de dez mil leituras, desde 2006. Participa da Agenda Cultural 2008 do Movimento virArte. Publicou, em 2008, através da Lei Municipal Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, com patrocínio da FUNALFA, Secretaria de Política Social, Prefeitura de Juiz de Fora/MG, o livro de poemas Vertigens do Tempo.

(MEDO) NO ELEVADOR

   Elevadores não são figuras pelas quais eu nutra sentimentos positivos. Realmente, eu não gosto desse veículo que é tido por muitos como um dos mais seguros do mundo. Como tudo o que sobe um dia desce, eu prefiro mesmo me locomover via escada. Vai que o dito cujo não esteja com sua manutenção em dia…e aí? Vou dar trabalho para os bombeiros por que?
   Fazendo uma reflexão um tanto imparcial, podemos notar com que frieza os ocupantes de tão utilizado meio de locomoção tratam-se. Na maioria das vezes nem um cumprimento, nem um bom dia, como vai?, nada! Tamanho distanciamento torna-se ainda mais evidente quando um dos corajosos tenta comunicar-se com os companheiros de subida – ou descida, dependendo da ocasião. Tudo começa com um frio hoje, né? Se a resposta for um sim, muito frio mesmo ou algo que o valha, a conversa fluirá como se os interlocutores fossem velhos amigos de infância. Agora, se o indivíduo que estava quietinho em seu canto, talvez fazendo uma força tremenda para não se borrar todo de medo do elevador ou para não soltar um pum, responder com um grunhido e nem ao menos se dignar a olhar para o rosto de quem lhe dirigiu a palavra… hum, neste caso o clima de velório acentuar-se-á de uma maneira tal, que qualquer intenção de romper a camada que se formará entre os passageiros será em vão.
   Pior mesmo só quando o elevador está equipado com um ascensorista. Aí, não tem jeito de escapar de uma conversinha despretenciosa, de alguns comentários indiscretos, de algumas perguntas de triplo sentido e de piadinhas sem graça. Se o edifício em que você se encontra for um daqueles beeeeem altos; se você tiver de visitar alguém lá no vigésimo nono andar… bom, não tem mesmo jeito de subir tudo isso de escadas. Então, é melhor se contentar com os solavancos e com os comentários do elevador e de seu condutor – necessariamente nessa ordem.
   Como ilustração, usarei uma das minhas aventuras num dos prédios mais altos da minha cidade. Como não nutro a mínima simpatia por elevadores, resolvi fazer o que tinha de fazer num horário de pouco movimento, quando pudesse subir os dezessete andares que me separavam da imobiliária, onde iria para pagar o meu aluguel, praticamente acompanhado somente pelo ascensorista. Pois bem, adentrei o veículo – não sem antes enxugar a última gota de suor da minha testa –, disse as palavras mágicas que me levariam para cima, boa tarde, décimo sétimo, por favor, e me escondi bem atrás da cadeira onde o sr. Waldir estava sentado, ele que há treze anos vive subindo e descendo por aqueles mesmos andares. Bem acomodado olhando o painel que indica em que andar o trem está, tentando relaxar fingindo concentrado na música que inundava a enorme caixa de madeira presa por cabos de aço, tentando disfarçar o medo… assim eu estava… até que fui despertado de meus devaneios por uma voz mansa e calorosa, numa frase pela metade:
– …cê viu o Vascão ontem?
   Distraidamente, eu olhei para os brilhantes numerais ordinais à minha frente e respirei fundo ao ver um dois zombeteiro me avisando que ainda faltavam quinze andares. Sem escolha, tive de responder perguntando:
– O que o sr. disse?
– Você viu o jogo do Vascão ontem?
   Logo jogo do Vasco… Logo no quarto andar… Tentei sair pela tangente, mas acabei conseguindo uma secante:
– Não, não… Eu sou Flamengo.
– Bom, o importante é ter saúde, né!?
– Pois é…
– Seu time anda bem, está em oitavo no campeonato… acho que desta vez não cai
não, né?
– Acho que não… (Sétimo andar)
– Você não gosta muito de futebol não, né? Fala pouco…
– Até que gosto bastante, sim. Só que esses pontos corridos são muito chatos…
– Bom, cada um pensa de um jeito, né mesmo?
– Aí eu concordo. (Décimo andar)
– Ah, já sei: Copa do Mundo! Não há uma única pessoa que não acompanhe a
Copa…
– Concordo novamente!
– Pois é, rapaz; está todo mundo torcendo pelo Brasil, sil, sil!…
– Aí eu não concordo. (Décimo segundo andar)
– Como assim, não concorda?
– É que eu torço pela seleção da Argentina.
– Quê?!
– Isso mesmo, tenho camisa e tudo.
– Mentira!?
– Verdade! (Décimo quinto andar)
– Mas… Mas… você não torce nem um pouquinho para o Brasil?
– Nem um pouquinho! Inclusive eu tenho um cachorro que se chama Gigghia…
– Gigghia? Que maldade…
– …e um gato que se chama Zidane.
– E essa agora! Se fosse na minha época…
– …
– Estou te achando meio comunista, hein. Deixa o pessoal saber que você não
torce…
   E, naquele exato minuto, uma voz metálica interrompe a nossa conversa: Décimo sétimo andar; Edifício Clube Juiz de Fora, boa tarde.
Mais do que depressa, eu saltei do elevador, dei um até logo triunfante para o sr. Waldir e o vi fechar a cara para mim da mesma forma com que o elevador fechava suas portas.
   Pago o aluguel, resolvi fazer uns exercícios para fortalecer a musculatura das pernas…
   (Trocando em miúdos: achei mais cômodo descer dezessete andares a pé do que arriscar descê-los de elevador. E se o sr. Waldir for um dos remanescentes da final da Copa de 1950… Nunca se sabe e, ainda mais importante, dar trabalho para os bombeiros por que?)