Registrada em 06 de abril de 2009

A ALACIB é uma Associação Literária sem fins econômicos, com sede e foro em Mariana, Minas Gerais, CNPJ 10778442/0001-17. Tem por objetivo a difusão da cultura e o incentivo às Letras e às Artes, de acordo com as normas estabelecidas no seu Regimento. Registrada em 06 de abril de 2009.

Diretoria da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil
Presidente: Andreia Aparecida Silva Donadon Leal
Vice-Presidente: J.S. Ferreira

Secretário-Geral: Gabriel Bicalho
Tesoureiro: J. B. Donadon-Leal
Promotora de Eventos Culturais: Hebe Maria Rôla Santos
Conselho Fiscal e Cultural: José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Magna das Graças Campos e Anício Chaves

Acadêmico CARLOS LÚCIO GONTIJO
Cadeira nº 15
Patrono: Bueno de Rivera


 

Notas Biográficas de Carlos Lúcio Gontijo
CARLOS LÚCIO GONTIJO, poeta escritor e jornalista, reside em Santo Antônio do Monte, onde é secretário de Cultura (2013/2016). Editou o primeiro livro em 1977 e, hoje, apresenta uma obra com 16 títulos, que podem ser acessados no site www.carlosluciogontijo.jor.br. Fez carreira jornalística em Belo Horizonte, trabalhando durante 31 anos no jornal “Diário da Tarde” e também nos jornais Diário de Minas/Jornal de Minas, Tribuna de Mariana e Hoje Em Dia. Foi presidente da Associação Mineira de Imprensa (AMI). Em 1997 recebeu o “Troféu Magnum de Cultura”, homenagem do Colégio Magnum Agostiniano, em comemoração aos 100 anos de Belo Horizonte; dá nome à biblioteca comunitária do Bairro Flávio de Oliveira, bem como à biblioteca do Instituto Maria Angélica de Castro (IMAC), ambas em Santo Antônio do Monte. É membro da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – ALACIB ; da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (Avspe); da Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO); da Academia Santantoniense de Letras (ACADSAL). É portador do “Prêmio Mérito Literário Poeta Antônio Fonseca”, instituído pela Academia Betinense de Letras (ABEL).

Discurso de Posse

Cadeira n° 15: Carlos Lúcio Gontijo
Patrono: Bueno de Rivera
Somos todos acadêmicos e literatos à medida que nos deixemos tocar pela beleza e pela sensibilidade da palavra escrita. Serei breve em minha fala, pois me remeterei a Bueno de Rivera, um poeta maior, um fazedor de horizonte, um receptor de luzes, cuja chama não se transpõe, ou melhor, recusa-se a ficar inteiramente no papel; é calor que só o coração e o espírito podem acolher, conter e guardar.
Bueno de Rivera, agora patrono da cadeira 15 que ocupo na Academia de Letras, Artes e Ciências do Brasil (ALACIB), era o nome artístico do mineiro Odorico Bueno, que há muito é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, com tradução em diversos países e referência obrigatória para todo e qualquer estudioso da verdadeira poesia feita no Brasil.
Bueno de Rivera nasceu em 1911, na cidade mineira de Santo Antônio do Monte, município do Centro-Oeste de Minas Gerais, onde eu passei minha infância, parte de minha juventude e bate lá o meu coração. Era menino ainda quando, pela primeira vez, ouvi a citação de seu nome.
Não por um professor ou sequer um estudante, mas por intermédio do pedreiro João Bueno, que à época trabalhava em uma reforma na casa de meus pais e se gabava de ser parente do festejado poeta.
Em 1976, tive o prazer e a honra de conhecer o grande poeta mineiro Bueno de Rivera, em visita a seu apartamento, na região central de Belo Horizonte, e imediatamente me lembrei do pedreiro João Bueno, pois me deparei com uma pessoa simples, um engenheiro da palavra – tijolo por tijolo –, um intelectual avesso a qualquer tipo de badalação e devotado pai de família.
Infelizmente, por seu recato e discrição, o incomparável Bueno de Rivera permanece autor desconhecido do grande público até os dias de hoje, como costuma acontecer com os que, como ele, Emílio Moura e Henriqueta Lisboa – por exemplo – se entregam de forma voluntária ao isolamento e à escassa divulgação em solo das Gerais.
Contudo, como ia dizendo, procurei o poeta Bueno de Rivera com o intuito de solicitar um prefácio para o meu segundo livro (Leite e Lua). Bueno não se fez de rogado, mas com jeitinho bem mineiro cuidou de me dar alguns conselhos sobre a busca de estilo próprio e a indispensável lapidação do dom que carregava comigo.
Pois bem, como para bom entendedor meia-palavra basta: lancei o livro prefaciado pelo poeta mineiro de Santo Antônio do Monte em 1977 e, seguindo as orientações do mestre, só voltei a editar dez anos depois, quando me julguei mais bem preparado.
Lamentavelmente, Bueno de Rivera faleceu em 1982, deixando-nos três importantes livros de poesia: Mundo Submerso (1944); Luz do Pântano (1948); e Pasto de Pedra (1971).
E só não publicou mais obras literárias porque o enorme sucesso de crítica não lhe trazia o necessário retorno financeiro e, com família para criar, ele – mineiro pé no chão, homem da montanha – optou por ganhar o pão de cada dia exercendo outras atividades, como a publicação do “Guia Rivera”, livreto vendido nas bancas de jornais e revistas, que trazia o número, o trajeto e o ponto de todos os ônibus coletivos da capital mineira.
Porém, seus livros jamais deixaram de ser lidos e comentados nos altares iluminados dos amantes da boa poesia mundo afora.
Ainda recentemente, Bueno de Rivera foi premiado com a publicação de vários poemas seus numa bela seleção feita por Affonso Romano Sant’Anna, onde seus versos luzidios, enxutos e precisos arrancaram aplausos e, mais uma vez, semearam conscientização e sensibilização do ser humano, como em O Apocalipse do Aleijadinho:
“Dobram os sinos/ do Carmo/ — pelo ricaço/ — pelo devasso./ Dobram os sinos/ das Mercês/ — pelo ouvidor/ — pelo marquês./ Dobram os sinos/ choram os sinos/ pelos Nobres blão/ pelos Brancos blão/ — pelo Aleijadinho N ÃO!”

Poemas de Carlos Lúcio Gontijo

Aves

Meus horizontes lhe entrego
Pode vir-me confiante com seu sol
É seu cada leito do meu fundo
Achegue-se com seus mares
Ë sua cada árvore, todo ramo
Aproxime-se com suas aves
Todo meu céu lhe abro
Venha-me com suas estrelas
Deixo-lhe todos os meus espaços
Traga-me seus infinitos
Dou-lhe todo meu ar
Encaminhe-se com seu vento
Oferto-lhe minhas horas
Suscite-me com seu tempo
Falsa Retidão
Tudo o que quis ser e não fui
Hoje se dilui sobre o que sou
Em meu passo o mar do destino flui
No que não sou o pedaço do que sou está
Esquecimento faz parte da lembrança
Esperança com a desesperança convive
A vida vive em meio a muita morte
O mais forte nem sempre é valente
Pode não ser contente a pessoa feliz
Há muita presença cheia de ausência
Muita ausência que presença marca
Refletindo a fiel luz da transparência
Que reflete o ser humano em solidão
Pois que sob o pano solerte da multidão
Todos aparentam viver em retidão

Escafandrista

Quando eu morrer traga-me o escafandrista
Não me deixe sofrer na mão do médico-legista
Minha alma requer quem entenda de espírito
Alguém com a profundidade mediúnica de Chico Xavier
Capaz de mergulhar em mim com a túnica dos olhos
E me vislumbrar navegando para a prometida eternidade
Remando rumo ao mar de luzes com sobriedade e afã
Como se eu fosse irmão gêmeo de toda manhã!

Mantra de Drummond

Na vida a pedra é eterna senda comum
Cada um de nós herda a sua própria fenda
Mas em Itabira o Poeta Maior incomum
Entrelaçou mar na peneira de versos em corrente
E na renitência garimpeira de mineiro sozinho
Ensinou a gente a gotejar mantra de paciência
Sobre a dura consistência da pedra no caminho

Privacidade


Aonde vou levo minha casa
Minha intimidade está no outro
Perco privacidade se me escondo
Ela existe enquanto me revelo
Por autoestima velo o próximo
Como se cuidasse de mim mesmo
A amizade é joia de anjo
Arranjo divino para nossa sobrevivência

Costura Antiga

O vestido verde-água do meu amor
Perdida a cor, tecido em mágoa
Num corte sentido, entalhado na saudade
Alinhavado num tempo de vontade sem rinhas
De muita festa e toda linha
Costurado quando havia ponto de esquina
Quando o mundo rodava num carretel de alegria
Quando não se precisava de dedal
Pois a claridade era de tal fagulha
Que da agulha sempre se sabia!

Navegador Trêmulo


No lençol alvadio do amor navego
Cego de paixão e cio me entrego
Esfrego-me em seu corpo feito vento na vela
Sua alma enjanelada à minha se atrela
Uso minhas mãos tépidas como remo
E apesar da maré intrépida nada temo
Apenas tremo enquanto velejo
Em gozo provocado pela viração de seu beijo

Viagem Espiritual


O tempo passa e me arrasta
Lentamente tira meu espírito da casca
Arranca lascas no casulo em que vivo
Já cheio de rugas no rosto
E um estranho gosto por estrela
Percebido no calor das mãos que esfrego
Como se em meu ego dormissem
Lembranças íntimas de um ninho de luz
Anterior ao caminho rumo à Terra
Onde em ventre de mulher o Criador desova
Almas escolhidas pra uma chance nova

Correntes

Feito samambaia na fresta dos rochedos
Sem medo cresce-nos a festa da paixão
O horizonte do coração fronteiras não tem
Pingando mel, abertos em açucarado cio
Não nos importa o pavio curto dos mercados
Pois, divinamente, os amantes e os rios
Serpenteantes no macio de seus leitos
Seguem alvadios e livres entre correntes...

Pedaço Inteiro


Solidão de beijo que não sabe a boca
Pantanal sem alagados nem cheias
Mancheias de mais loucas ilusões
Almejo ainda encontrar alguém
Salivo gostos no prato do desejo
Estar vivo é deixar-se consumir
Doar braços e toda a alma
Sob a calma de estar inteiro aos pedaços

Cais de Corpo

No cais do horizonte do meu corpo
Marcas reais do barco de amor
Que um dia em mim ancorou
Provando os sais do oceano que sou
Sugando tudo e querendo mais
Espécie de polvo de mãos amorosas
Calorosas mãos que me apalparam
Palmo a palmo sob o salmo do querer
Absorventes como a luz do amanhecer
Deixaram-me entre a vida e a morte
Lábio trêmulo pela sorte do prazer
Estirado na esteira de libido preamar
Ouvido aberto ao tecer de promessas
Preces que o amor incontido reclama
Embriagado pela chama do vaivém das marés

Contagem

Se antes contava por contar
Assim já não conto mais
No ponto exato para amar
A conta que hoje faço
Tem soma de abraços
Nada toma e cria laços
Contagem me ensinou a juntar
A apurar o garimpo da viagem
E perfilar a vida passada a limpo
Respirando apenas o bem e a aragem
Provenientes da beleza de Várzea das Flores
Dos andores sociais da Comunidade dos Arturos
Das praças lembrando quintais sem muros
Da criatividade fagueira da Casa dos Cacos
E tantos outros incontáveis marcos
De uma cidade forjada no aço operário
E no passo portuário de sua gente!

 



Edição em 25 de janeiro de 2019 por J. B. Donadon-Leal